Diretor diz que programa não funcionou e que alunos sentem vergonha. Prestes a entregar mais 2,6 mil bicicletas, GDF diz que projeto teve sucesso.
Construídos para abrigar as 300 bicicletas entregues há um ano para alunos da rede pública, os bicicletários de duas escolas do Recanto das Emas, no Distrito Federal, estão sem uso. Servidores afirmam que os estudantes contemplados pelo programa Caminho da Escola, feito em parceria com o governo federal, nunca usaram o veículo e que muitos deles não frequentam mais as instituições porque já se formaram. A Secretaria de Educação disse que as bicicletas, compradas por R$ 94 mil, foram doadas diretamente aos estudantes e que não há como controlar seu uso.
A proposta inicial do projeto, no entanto, era diferente: alunos com mais de 14 anos que morassem a até sete quilômetros da escola receberiam as bicicletas e capacetes com a condição de devolvê-los ao final do ano. O lançamento ocorreu em agosto de 2011, quando os veículos foram entregues pelo então ministro da Educação Fernando Haddad e pelo governador Agnelo Queiroz. Depois, elas foram recolhidas e passaram meses sem uso porque, segundo o GDF, os estudantes não haviam passado por treinamento.
Entre as razões apontadas por funcionários e estudantes ouvidos pelo G1 para a baixa utilização estão medo de assalto e vergonha. O diretor do Centro de Ensino 111, Paulo Vinicius, disse acreditar que os alunos se sentiam constrangidos, porque eram chamados pelos colegas de carteiros. “Muitos chegaram a customizar as bicicletas porque tinham vergonha da cor, das peças ruins que estragavam rápido, da qualidade e do acabamento.”
Para o diretor, o programa nunca funcionou de verdade. “As bicicletas tiveram pouquíssima utilização. Questões como insegurança, medo de assalto e falta de conscientização dos motoristas atrapalharam o uso”, disse. Segundo ele, não há uma cultura local favorável ao uso dos equipamentos, que seriam perigosos por causa do risco de acidentes de trânsito. Por isso, muitos alunos continuam indo à escola de ônibus ou a pé.
O estudante Hugo Vieira, de 15 anos, disse que não conhece ninguém que usa a bicicleta. O colega Everton Leal, de 16 anos, afirmou que alguns amigos até chegaram a usar o equipamento quando foram entregues, mas depois os abandonaram. “Acho que por vergonha”, opinou.
A funcionária do Centro de Ensino 111 Maria das Dores afirma que foram instaladas até placas de sinalização pelas ruas, mas nem isso estimulou o uso. Já o vice-diretor do Centro de Ensino 804, Laércio Alves, diz que o governo decidiu doar as bicicletas porque as escolas não tinham estrutura para armazená-las ou controlar a utilização delas. Ele afirmou que a maioria dos alunos contemplados já se formou.
Nas duas escolas, um único estudante foi encontrado usando o veículo. “É melhor do que andar a pé”, disse Junior da Anunciação Sousa, de 16 anos. “A bicicleta é boa, nunca quebrou. Uso todo dia para ir e voltar da escola e do trabalho.”
A Secretaria de Educação afirmou considerar o programa “bem sucedido”, apesar da situação. Até junho a pasta informou que serão entregues mais 2,6 mil bicicletas, por R$ 787 mil. As próximas doações ocorrem entre 14 e 16 de maio, em escolas do Paranoá.
Fonte: Revista Bicicleta