Aplicou golpes de kung fu a marginais na Sibéria, comeu cobra em Cuba e ratos no Texas. Quando não tem dinheiro, canta karaoke
O chinês Lai Likun, um gerente fabril de 41 anos, já pedalou 31 mil quilômetros pelos quatro continentes e entrou em 25 países na sua volta ao mundo em duas rodas. Já teve seis bicicletas nos últimos três anos. Viaja sozinho, só fala mandarim e cantonense, não tem dinheiro, e procura ajuda nas comunidades chinesas dos lugares por onde passa (na foto, Lai Likun junto ao presidente da Câmara de Monterey Park, na Califórnia, EUA).
“Desde os 6 anos de idade que o meu sonho é fazer uma volta ao mundo em bicicleta”, disse Lai Likun, citado pelo ‘New York Times’ (NYT), enquanto estava de passagem por Nova Iorque, a completar a sua etapa norte-americana de sete meses, que incluiu uma passagem pelo México e por Cuba. O próximo destino será a América do Sul. E a seguir as ilhas do Pacífico.
O ciclista saiu de Shunde, a sua terra natal, na província de Guangdong, em Novembro de 2009, com o equivalente a 15 euros no bolso. Percorreu, primeiro, mais de 40 cidades chinesas e depois atravessou a Rússia numa longa etapa que só acabou na Europa do norte.
Quando foi impedido de prosseguir na fronteira com a Finlândia, apanhou um avião de volta para a China e, segundo o relato do NYT, voltou a pedalar para Oeste até à região chinesa de Xinjiang e a seguir rumou para sul, até Yunan. Prosseguiu pelo Vietnã.
Lai Likun é um otimista. Confiou sempre que as pessoas lhe dariam comida, abrigo ou dinheiro para continuar a sua jornada planetária (na foto com participantes da concentração de ciclistas, Temple City Bike Ride & Rodeo, em Temple City, Califórnia, EUA).
Caso contrário, teria de pôr em prática as suas estratégias de sobrevivência. Comeu cobra em Cuba, ratos no Texas e sapos na Tailândia. Se for preciso, dorme numa tenda. E se tudo falhar, tem um sistema redundante de financiamento: viaja com uma máquina de karaokê portátil que lhe permite cantar canções pop chinesas dos anos 80, e pedir doações em troca aos transeuntes.
O que lhe facilita o atravessamento de fronteiras (apesar de ter os papéis em ordem) é a coleção de papelada mostrando os países onde passou, mais os prêmios ganhos na China e ainda os recortes de imprensa chinesa onde o apelidam de “Homem de Ferro de Shunde” ou de “Ciclista louco” (na foto, Lai Likun mostra recortes de jornais a habitantes de Temple City, EUA). De acordo com o NYT, até polícias americanos lhe deram dinheiro, ao saber a sua história, em vez de o expulsarem de um parque.
Como só fala mandarim e cantonense, procura ajuda e apoio nas associações de chineses nas grandes cidades. Quando não tem o apoio da diáspora, pede aos nativos de cada país para lhe escreverem frases com pedidos básicos em post-its e assim comunica com o mundo.
Apesar de parecer low-tech, mantém-se em contacto com a família, na China, através de um smartphone. Mas usa mapas em papel. Os problemas relacionados com a insegurança em certas zonas do globo são ultrapassados com movimentos de kung fu, e assim terá vencido um grupo de motards na Sibéria, armados com pistolas. Ele diz que depois de alguns golpes marciais estava pacificamente a mostrar-lhes fotos das suas viagens.
Parece uma viagem impossível? Lai Likun responde ao NYT que “desde que uma pessoa se mantenha determinada, não há nada que não consiga fazer”.
Fonte: Portal Sábado