Comprar uma bicicleta usada pode vir a ser uma boa opção, desde que tomemos alguns cuidados ao fazê-lo. Listamos aqui algumas dicas importantes para fazer um bom negócio, longe das eventuais dores de cabeça:
Sobre a procedência da bicicleta
A questão da bicicleta roubada é um problema muito maior que simplesmente uma questão ética, moral ou até legal. Quando uma sociedade aceita este tipo de desvio social as conseqüências costumam ser graves e atingir a todos, e não só quem foi roubado. Infelizmente vivemos no Brasil com uma violência que deve ser considerada uma guerra civil e uma das bases é justamente a falta de compreensão de boa parte da sociedade de que pirataria e receptação é o que realmente sustenta toda a barbárie. A questão do mercado de bicicletas roubadas é tão grave que países como a Holanda tem no controle deste crime um dos pontos principais de sua política interna.
Importantíssimo: Tenha absoluta certeza da origem da bicicleta. Produto roubado é crime de receptação e mesmo neste Brasil de justiça muito falha e precária é confusão certa e sacanagem social. Exija sempre a nota fiscal ou comprovante de procedência da bicicleta.
Enfim, duvidou, não compre!
Dicas para uma boa compra:
- Qual será o uso da bicicleta? Meio de transporte, lazer, esporte, cicloturismo… Escolha o modelo certo.
- Qual o tamanho da bicicleta? Evite um tamanho inadequado para o ciclista.
- Tenha paciência – não compre por impulso
- Peça ajuda quando não tiver conhecimento
- Teste várias antes de fechar o negócio
Onde comprar?
É mais garantido comprar de bicicletaria porque:
- Bicicletarias honestas, as únicas recomendáveis, tomam muito cuidado com o que recebem e comercializam
- A responsabilidade de uma possível receptação de roubo é da bicicletaria
- Pela lei brasileira, o Código do Consumidor, a bicicletaria é obrigada a dar garantia. A maioria das bicicletarias entretanto, desconhece a lei.
- Peça sempre documento de compra e garantia do produto
- Se for comprar de particular peça a nota fiscal original. Caso ele não a tenha, peça documento de procedência da bicicleta.
Verificação geral da bicicleta
- O primeiro passo é passar os olhos no geral e não se impressionar com brilhos e limpeza.
- Procure por amassados ou arranhados profundos no quadro
- Verifique as condições do tubo próximo à corrente. Se houver algum protetor instalado no tubo, peça para o vendedor retirá-lo.
- Fique na frente da bicicleta e feche um olho (olhar de alinhamento de marceneiro) para ver se tudo está alinhado
- A bicicleta não deve ter grandes folgas, e se as tiver, que sejam pequenas e não barulhentas.
- Busque informações sobre como o antigo proprietário pedala, se ele é suave, bom ciclista e cuidadoso com o equipamento. Provavelmente terá uma boa indicação sobre como está a bicicleta.
- Trincas, amassados ou algo estranho: olhe quadro e garfo com cuidado para ver se não há nenhuma trinca, amassado ou qualquer outro problema. O mais crítico costuma ser próximo da caixa de direção, movimento central e gancheira traseira
- Pedale a bicicleta e solte a mão do guidão para ver se ela está alinhada. Alinhada ela segue em linha reta
Verificação das rodas da bicicleta
- Gire as rodas e veja o alinhamento e se há alguma deformação por batida ou buraco
- Retire as rodas do quadro e gire os eixos com a ponta dos dedos e sentirá como estão os rolamentos. Uma pequena folga costuma não ser problema. Problema é sentir que o eixo não roda toda volta com constância. Verifique se o eixo não está torto.
- Verifique o desgaste dos aros: as paredes dos aros não devem apresentar marcas das sapatas de freio. Aros muito desgastados apresentam concavidade na parede externa, sinal de que as sapatas de freio já gastaram o metal dos aros. A partir de certo ponto de desgaste pode haver a quebra do aro. Alguns aros mais modernos, para freios com sapatas, tem um friso em cada lado do aro que podem indicar o desgaste do aro.
- Cheque os raios e busque os quebrados. Se for um ou dois não é grande problema. Muitos já não é boa coisa
- Peça para calibrar os pneus e só então olhe a condição dos pneus, desgaste de banda de rodagem e possíveis cortes na lateral
- Depois de calibrado o pneu dê um tempo para ver se não esvazia ou perde pressão
Coroas, relação e corrente:
- Se os dentes de alguma engrenagem (coroas, cassete ou catraca) estiverem pontiagudos é sinal de desgaste e necessidade de troca
- Olhe a posição que está a corrente na frente e atrás. Veja se a coroa e engrenagem onde está apoiada a corrente não estão mais gastas ou deformadas que as outras. Normalmente isto acontece com a coroa pequena da frente, ou a do meio, e as engrenagens menores de trás. Significa que o antigo proprietário não trocava as marchas, o que é muito comum.
- Veja se os elos da corrente estão casando com os dentes das coroas da pedivela. Um pouco de folga não é problema. Se a corrente não encaixa mais o custo do conserto pode ser caro.
- Engate a corrente na coroa do meio da pedivela. Puxe a corrente para frente com força, afastando a corrente da coroa. O ideal é que a folga máxima deixe passar um lápis entre a corrente e a coroa. Corrente nova não é cara e se for o caso troque sem pensar.
- O cassete ou catraca não pode ter movimento lateral acentuado. Uma folguinha até é normal. Acima de 2 milímetros é troca praticamente certa.
- O sistema de câmbio normalmente é o conserto mais caro em bicicletas usadas
Câmbios e passadores de marchas:
- As paredes internas do câmbio dianteiro não podem estar desgastadas
- Não pode haver folga lateral acentuada no câmbio traseiro, mas um pouco de folga é normal.
- Muito óleo ou graxa acumulada no câmbio traseiro não é bom sinal. Verifique o estado das duas roldanas: se os dentes estiverem pontiagudos ou quebrados, troque-as.
- Pedalando na rua (o mais recomendado) ou com a bicicleta levantada do chão: Verifique se os passadores de marchas não estão travando ou pulando marchas. Eles devem funcionar perfeitamente com um único clique. Verifique depois o engate da corrente: não for um engate preciso pode ser um simples ajuste, lubrificação ou necessidade de troca de cabos.
Freios:
- Acionar cada um dos manetes com o máximo de força possível e ver se o sistema fica firme
- Acionar e soltar e ver se as molas dos freios ainda funcionam bem
- Olhar o alinhamento dos freios em relação ao aro. Se algum estiver fora do alinhamento mexer com a mão para sentir o que acontece
- Verificar condição dos cabos e sapatasPedais:
- Preferencialmente sem ferrugem, amassado ou arranhado
- Gire-o manualmente e verifique se ele roda suavemente
- Os pedais não devem apresentar folgas
- Na dúvida, troque os pedais. Uma quebra de pedal pode ser algo muito perigoso
Guidão:
- Alinhamento deve estar perfeito
- Busque trinca ou amassado próximo do avanço
- Evite guidões com sinais claros de desgaste ou batidas
Selim e canote de selim
- O canote de selim tem que ser da medida exata para encaixe no tubo de selim, ou seja, quando solto desce e sobre com facilidade
- Canote grudado em quadro de cromo-molibdênio é sinal de falta de lubrificação ou da bicicleta ter passado um bom tempo na praia
- Dê um tapa na ponta do selim – não pode mexer na horizontal e na lateral
- Verifique se o canote não está empenado