Preparamos um guia rápido que auxiliará a não só compreender melhor o funcionamento da corrente, com também prolongar sua vida útil, através de uma manutenção e lubrificação eficiente.
A corrente
A maioria das correntes de bicicletas são fabricadas em liga de aço, sendo que alguns modelos top de linha são revestidos com níquel para maior resistência a oxidação. As correntes são compostas de:
- Placa Externa
- Placa Interna
- Pino
- Rodilha
Em um sistema de transmissão em bom estado, as rodilhas da corrente encaixam perfeitamente nos dentes das coroas e dos pinhões do cassete da roda traseira. Quanto mais uniforme o contato, mais eficiente e mais silenciosa será o funcionamento da transmissão da bicicleta.
Desgaste
Assim como os demais componentes do grupo transmissor, a corrente possui uma vida útil. A medida em que a corrente vai sendo utilizada, a abrasão decorrente do contato físico com o cassete e as coroas, aliada à tração exercida pela força da pedalada vai literalmente ‘esticando’ a corrente e aumentando a sua folga, a ponto de não mais permitir um perfeito contato entre as peças do grupo. Quando isto ocorre, o câmbio passa a pular as marchas e, caso não seja trocada logo, passará a desgastar os outros componentes do grupo.
Daí a importância de se trocar regularmente a corrente, caso contrário o barato poderá sair muito caro.
Via de regra, uma corrente de qualidade deve ser trocada a cada 1000km (bicicletas mountain bike) e 1500km (bicicletas de estrada ou passeio). Entretanto, fatores como os descritos abaixo poderão influir positiva ou negativamente no período de troca da corrente:
Fatores que contribuem para o desgaste da corrente
- Estilo de Pedalada – Forçar demais o grupo transmissor trabalhando com marchas pesadas em excesso contribuirá significativamente para um maior desgaste ou mesmo com a quebra da corrente;
- Combinação na relação coroas e cassete – Evite a todo custo trabalhar com relação ‘cruzada’ (maior pinhão do cassete com coroa maior e vice-versa);
- Clima – Moradores de cidades com clima úmido ou próximo ao litoral terão a vida útil da corrente reduzida. Armazenar a bicicleta molhada ou com lama também contribuirá para o desgaste precoce;
- Tipo de terreno – Terra, pedriscos, lama e areia agem como um abrasivo na corrente das bicicletas. Por isto existe uma desgaste maior de correntes de bikes trilheiras em relação as que rodam exclusivamente no asfalto;
- Estado de conservação das coroas e do cassete – Assim como uma corrente em mal estado pode comprometer o resto do grupo, a recíproca é verdadeira.;
- Lubricação – Item fundamental para a manutenção e durabilidade da corrente. Limpe sempre a corrente antes de lubrificá-la.
Como medir o desgaste
Como se pode ver, existem diversas variáveis que determinam quando deveremos realizar a troca da corrente. Felizmente, existem ferramentas que nos indicam o nível de desgaste da corrente e seu iminente momento de troca. É o caso de ferramentas como os modelos Chain Checker CC-2 e Chain Checker CC-3.2, fabricados pela empresa Park Tool. Estas ferramentas trabalham medindo o nível (em porcentagem) do estiramento da corrente. A maioria dos fabricantes de correntes recomendam que as mesmas sejam trocadas quando tiverem entre 0.5% a 0.75% de estiramento. Toda boa oficina mecânica deve possuir este tipo de ferramentas e informar ao cliente o momento certo de trocar a corrente de sua bicicleta.
Cuidados e manutenção da corrente
O tema limpeza e conservação da corrente da bicicleta é algo controverso. Existem centenas de maneiras de se limpar e lubrificar a corrente, de forma que apresentarei alguns dos métodos que já utilizei pessoalmente, o que não quer dizer que existam outros métodos que funcionem tão bem ou melhor.
A primeira parte do processo é limpar de forma eficiente a corrente. Com o uso, a corrente acumula poeira e outras partículas abrasivas que contribuem com o desgaste da mesma. por este motivo, não se recomenda lubrificar uma corrente sem antes limpá-la corretamente. Aplicar o lubrificante sobre a corrente suja irá fazer com que o óleo retenha a sujeira da corrente, acelerando o desgaste.
Limpeza
Sempre que possível, utilizo produtos biodegradáveis. Além de ambientalmente corretos, não possuem cheiro forte e não atacam as delicadas peças da bicicleta e nem a pintura do quadro. Até pouco tempo eu utilizava produtos do tipo Citrus Degreaser, fabricados por empresas como a Finish Line e Park Tool. São produtos a base de óleo de casca de frutas cítricas que possuem alto poder desengordurante e ainda tem um cheirinho muito bom! Infelizmente, são bastante caros. Por esta razão, hoje eu utilizo um produto bastante conhecido, fácil de se encontrar em supermercados e relativamente barato. Trata-se do desengordurante Cif. Ele limpa a corrente e demais peças da bike de maneira eficiente e ainda tem a vantagem de poder ser diluído para a limpeza do quadro da bike, o que o deixa com um excelente custo x benefício. Evite a todo custo a utilização de óleo diesel, querosene e outros produtos a base de petróleo, que atacam peças plásticas e a fibra de carbono de sua bike.
Existem duas maneiras de se limpar a corrente. Uma delas, retirando completamente a corrente da bicicleta. Outra maneira, é limpar a corrente mantendo-a na bike. Os dois métodos possuem vantagens e desvantagens, de forma que descreverei os dois:
Sem retirar a corrente
Este sistema é o mais indicado para as pessoas que moram em apartamentos, ou que não querem perder muito tempo na manutenção de sua bicicleta. Existem uma série de produtos disponíveis nas lojas do Brasil chamados genericamente de Chain Scrubbers, que nada mais são do que uma espécie de máquina lava-correntes. Geralmente são constituídos de uma caixa acrílica com um sistema de escovas em seu interior. Basta encaixar a corrente na maquina, acrescentar seu produto de limpeza favorito dentro, fechar a máquina e, com s mãos, movimentar o pedivela. O movimento fará com que as corrente passe pelas escovas e pelo produto de limpeza, deixando-a limpa em questão de segundos. As marcas Park Tool (CM-5 Cyclone Chain Scrubber) e Finish Line (Chain Cleaner) possuem modelos de chain scrubbers com preços mais ou menos em conta.
Após esta etapa, utilize uma escova para limpar as coroas, o cassete e as polias do câmbio. enxague com água e seque muito bem antes de ir para a próxima etapa (lubrificação).
Retirando a corrente
Esta é a maneira preferida dos mecânicos profissionais, pois permite uma limpeza mais profunda. A primeira coisa a se fazer é desmontar ou ‘quebrar’ a corrente. Para isto, é necessária a utilização de uma ferramenta apropriada, como a Proffesional Chain Tool da Shimano Pro. A maioria das correntes de bicicleta do mercado possui um dos pinos em cor e/ou formato diferente dos demais. Trata-se do pino master, onde deveremos utilizar a ferramenta para ‘quebrar’ a corrente e retirá-la da bike.
Alguns fabricantes tornam nosso trabalho mais fácil. É o caso da SRAM , que utiliza uma peça chamada de Power Link para emendar a corrente. Neste caso, não há a necessidade de se utilizar ferramentas para ‘quebrar’ a corrente, basta desmontar o Power Link.
Após a retirada da corrente, utilize seu produto de limpeza favorito para lavar superficialmente as laterais da corrente. Para isto, utilize uma escova.
Após esta etapa, utilize uma garrafa com a boca larga (uma caramanhola velha é excelente para isto) com cerca de 200ml de desengordurante e coloque sua corrente lá dentro. Feche a tampa e agite vigorosamente. Deixe o produto agir por mais alguns minutos e repita a operação. Após esta etapa, enxague com água em abundância, seque a corrente com um pano macio e que não solte fiapos.
Após esta etapa, recoloque novamente a corrente na bicicleta com o auxílio da chave de corrente.
Lubrificação
Uma vez colocada a corrente na bicicleta, chega a hora de lubrificá-la. Uma corrente corretamente lubrificada, além de ser mais silenciosa, terá uma vida útil maior. O segredo de uma correta aplicação de óleo lubrificante está na colocação do mesmo nas rodilhas da corrente, que são as partes que ficam em movimento e fricção constante na corrente. colocar óleo em excesso ou nas placas, além de desperdício, fará com que poeira e outros detritos fiquem impregnados na corrente.
Com a corrente completamente seca, coloque uma gota de lubrificante em cada elo da corrente. Em seguida, com um pano seco e que não solte fiapos retire o excesso de óleo. Esta operação deve ser realizada, preferencialmente na véspera da sua pedalada.
- Óleo automotivo;
- Óleo ‘Singer’;
- Graxa de qualquer espécie;
- WD-40
Para lubrificantes a base de cera, como o excelente Squirt, o procedimento é um pouco diferente. Com a corrente completamente seca e livre de resíduos oleosos, aplique generosamente o lubrificante em toda a superfície da corrente. Espere secar e repita a dose. Não há a necessidade de se retirar o excesso.
Seguindo este guia, você prolongará a vida útil da corrente de sua bicicleta consideravelmente. Uma corrente que é utilizada constantemente sob uma manutenção que a mantenha limpa e bem lubrificada irá durar mais do que uma corrente que quase não é utilizada, mas que não recebe manutenção.
Lembre-se: ao notar sintomas de desgaste da corrente, troque-a por uma nova assim que possível. O custo será inferior em comparação a troca de cassete e coroas desgastados pelo uso de uma corrente vencida.
Até a próxima!