A competição Brasil Ride completa este ano sua quarta edição em outubro, na Bahia, entra para o calendário internacional da UCI e firma-se como uma das maiores ultramaratonas de mountain bike do mundo
Criada no ano de 2010, a prova Brasil Ride figura hoje como uma das mais eletrizantes provas de longa distância da modalidade no planeta. Similar aos moldes da sul-africana Cape Epic, a competição mescla esforço físico (com etapas diárias que podem chegar a 139 quilômetros) e paisagens maravilhosas. Este ano, a quarta edição acontecerá entre os dias 20 e 26 de outubro, ao redor das cidades de Mucugê e Rio de Contas. Cerca de 400 atletas enfrentarão estradões de terra e antigas trilhas de garimpeiros que se tornaram perfeitas para o pedal. Para as 200 duplas esperadas neste ano, mais uma vez o maior desafio será enfrentar tantos dias repletos de trechos longos e técnicos, em meio a um clima muito quente.
A disputa deste ano terá quatro etapas renovadas, com a distância total de cerca de 570 quilômetros e 12.240 metros de subidas acumuladas (1.267 metros a mais que em 2012). Grande parte delas está guardada para o final da competição. “Para os amadores, será superação até o fim. Já para os atletas profissionais, devido ao grande desnível da sexta etapa, a disputa promete ser definida só no último dia”, explica Mario Roma, empresário e diretor do evento.
O trajeto se mantém espalhado ao longo de sete dias, com três etapas idênticas ao ano de 2012 – consideradas a “cara da prova” pela organização. Além do prólogo, que abre a competição, dois dias chamam a atenção: a etapa de cross-country (XCO) individual com tomada de tempo e a travessia de 139 quilômetros entre Mucugê e Rio de Contas, com passagem por um trecho bastante acidentado, que ganhou o apelido dos competidores de “Vietnã”. Para Mario Roma, esse será o dia que “separa os homens dos meninos”.
UCI – Pela primeira vez desde sua estreia em 2010, a Brasil Ride integrará o calendário de ultramaratonas oficiais da União Ciclística Internacional (UCI), a organização que rege o esporte em nível mundial. Transformou-se, assim, em uma grande oportunidade para mountain bikers nacionais mostrarem seu talento. Caso de Alexandre Sousa, morador do Vale do Capão, na Chapada Diamantina, e da dupla Sherman de Paiva e Henrique Avancini, da equipe Caloi. “Este ano vai mudar completamente a maneira como todos encararão a prova, porque agora o evento faz parte do calendário internacional”, conta Henrique, que figura entre os maiores nome do MTB brasileiro e que conquistou, em abril, uma histórica vitória na alemã Bundesliga de Munsingen, uma das mais tradicionais e importantes provas do mundo.
Outros experientes atletas do país também estão confirmados, como Adriana Nascimento, nove vezes campeã nacional de mountain bike, e Abraão Azevedo, dono do título mundial máster de 2011, que fará dupla com o holandês Bart Brentjens, primeiro atleta a levar o ouro olímpico no MTB, em Atlanta 96. O holandês já esteve na Cape Epic e curte a diferença entre os dois eventos. “A Brasil Ride nos dá a vantagem de poder conhecer melhor os outros ciclistas. Na Cape Epic, há mais atletas, então muitas vezes você nem vê a maioria deles durante a semana”, compara. “A organização com dois pontos de largada e chegada é perfeita. A partir daí, saímos para trilhas incríveis, como na etapa de contrarrelógio, que tem um percurso extremamente técnico e desafiante”, completa.
Entre um pedal e outro, os ciclistas que vêm de fora costumam interagir com as comunidades locais, em iniciativas da organização. Também não é raro encontrar um deles tomando banho de cachoeira após cada etapa. Como a Brasil Ride fecha a temporada internacional de competições da UCI, alguns inclusive esticam a estada no Brasil para passar férias. Além de Bart Brentjens, a Brasil Ride 2013 atrairá atletas gringos consagrados, como suíço Christoph Sauser, atual bicampeão mundial de cross-country, e os portugueses Luís Leão Pinto e Tiago Ferreira, vencedores da ultramaratona em 2012. “Para este ano, minha preparação passa por um volume alto de treino, entre cinco e sete horas diárias, além de treinamento específico de força e velocidade. Também faço estágios de 25 dias em altitude, o que me traz vários benefícios metabólicos”, conta Luís. Acostumados a competir individualmente, na Brasil Ride os mountain bikers têm de superar mais um desafio ao “encaixar” um bom pedal em dupla. Pelas regras, os participantes não podem se separar por uma distância maior que dois minutos.
“Existirão bons e maus momentos, e isso implica um grande entendimento entre a dupla. Por isso, bom senso e respeito são fundamentais”, conta Luís. O brasileiro Henrique Avancini concorda. “Correr em dupla muda muita coisa. Você não precisa se preocupar apenas com a sua sensação na prova, mas com a do seu companheiro também. No meu caso, tenho um ótimo relacionamento com o Sherman, o que ajuda muito. Sou mais explosivo, já ele é mais constante, porém somos parecidos na parte técnica”, acrescenta o atleta, que vai lutar pelas camisas amarela (líder geral) e branca (melhor das Américas). Também estarão em disputa as camisas laranja para a dupla feminina, a verde para duplas mistas, além de azul para a categoria máster (acima de 40 anos) e rosa para grand máster (mais de 50 anos). Já na categoria corporativa (outra novidade da prova neste ano), é possível competir em três pessoas, se revezando nas etapas.
Os atletas inscritos contam com estrutura para dormir em tendas individuais no acampamento coletivo e itinerante da Brasil Ride, além de assistência mecânica, alimentação e uma mala para transportar os equipamentos durante a semana. Para 2013, houve tanta procura que as inscrições estão na lista de espera. A organização já está recebendo reservas para 2014.
Fonte: Go Outside