18 de outubro de 2024

Briga de Davi e Golias no mundo do Ciclismo

Processo movido pela Specialized contra uma pequena loja de bikes no Canadá repercute negativamente nas redes sociais

Ao defender agressivamente sua marca Roubaix, Specialized provocou indignação e revolta - Foto: Caley Fretz / VeloNews.com
Ao defender agressivamente sua marca Roubaix, Specialized provocou indignação e revolta – Foto: Caley Fretz / VeloNews.com

Roubaix é o nome de uma cidade francesa na região Nord-Pas-de-Calais, França e conhecida, entre outras coisas, por ser destino final da famosa prova de estrada Paris-Roubaix.

Graças a isto, Roubaix também é o nome de um famoso modelo de bicicleta de estrada fabricado pela marca norte-americana Specialized.

E para finalizar, Roubaix é o nome da pequena loja de bicicletas de Dan Richter, situada na cidade de Cochrane, no Canadá.

Esta semana, um acontecimento fez com que a história da loja de bicicletas de Richter saltasse das páginas de um jornal canadense para as telas de computadores de ciclistas de todo o mundo, fazendo com que isto tivesse um impacto dramático sobre uma dos maiores marcas de bicicletas do mundo.

A loja pequena de bicicletas de Richter, um veterano da guerra no Afeganistão, é especializada na montagem de rodas de bicicletas estrada e mountain bike. O negócio estava muito bem até o final  do verão passado, quando ele recebeu uma carta da Specialized Bicycle Components, cujo conteúdo acabou vazando nas mídias mídias sociais esta semana e dando início a uma onda de indignação contra a marca norte-americana.

De acordo com Richter, a carta exigia que ele mudasse o nome de sua loja, Café Roubaix, e que ele deixasse imediatamente de vender rodas e outros componentes sob o mesmo nome. A Specialized reivindicou direitos exclusivos sobre o nome Roubaix no Canadá, fato que é facilmente verificável com uma rápida pesquisa na web.

O que normalmente seria uma simples disputa de marca a ser resolvida nos bastidores e longe dos olhos do público, rapidamente tornou-se simbolicamente uma disputa de David contra Golias.

Amplamente divulgado no Facebook e no Twitter, o incidente transformou-se em um símbolo da cultura corporativa e seu excesso de zelo, onde os fracos e indefesos via de regra acabam prejudicados.

Paris-Roubaix
Paris-Roubaix

Houve indignação, raiva, e descrença. Como pode uma empresa ser a “dona” de um nome com tamanho simbolismo para ciclistas do mundo inteiro? Como alguém poderia reivindicar o nome Roubaix?

Poucas horas após a divulgação do conteúdo da carta, a página do Facebook da Specialized foi entupida com milhares de comentários criticando a atitude, a ponto da marca ter que alterar suas configurações para mostrar apenas seus próprios posts. Longe de funcionar, as pessoas simplesmente passaram a protestar nos comentários de cada novo post da Specialized. Muitos pregaram abertamente um boicote à marca.

A resposta da Specialized? Praticamente nenhuma, a não ser reforçar o que ela já havia dito na carta: A companhia defenderá sua marca e seu direito de protegê-la. “Uma simples pesquisa de marcas teria evitado tudo isso”, disse Larry Koury, diretor da Specialized Canadá via e-mail. “Somos obrigados a defender nossa marca registrada sob o risco de perdê-la”.

Um fato curioso é que apesar do nome Roubaix ser registrado pela Specialized no Canadá desde 2007, a mesma não possui direitos sobre o nome em seu próprio país de origem. Nos Estados Unidos, o nome Roubaix é licenciado pela Advanced Sports, proprietária da marca desde 1990.

Pode parecer absurdo que uma entidade comercial pode manter a marca registrada no nome de uma cidade na França. Na verdade, Richter afirma que ele não estava ciente de que um nome como Roubaix poderia ser marca registrado. “Eu achava que eu não poderia registrar Roubaix como marca, pois é uma localização geográfica conhecida no ciclismo, para não mencionar o uso generalizado do termo”, diz.

Na busca por registrar nomes relacionados ao esporte, a Specialized não está sozinha: a marca Trek é a proprietária legal das marcas Alpe d’Huez, Dolomiti, até mesmo Maillot Jaune (Camisa Amarela).

Bullying – Perguntado se a marca norte-americana estaria praticando uma espécie de bullying legal, o especialista em direito canadense Jim Moss é taxativo: “A Specialized sabe que os custos processuais lhes permitirão vencer o processo”, disse o advogado. “Se isto é bullying legal? Com certeza!”

Nesta defesa ferrenha de seus interesses, a Specialized compra briga em outros fronts de batalha. Recentemente a marca ameaçou leva aos tribunais a fábrica de bikes NeilPryde. Um de seus modelos de bicicleta chama-se Alize, que Specialized alega ser muito parecido com o nome de seu modelo Allez.

Antes disso, a Specialized já havia processado a marca Mountain Cycle pelo uso do nome name Stumptown, o qual a Specialized alegava ser parecido demais com o nome de sua Stumpjumper. Mountain Cycle alterou o nome em 2006.

Outro caso famoso foi o da Epic Designs, um fabricante de mala-bikes obrigado a mudar seu nome para Relevate Designs em 2009.

A lista não acaba por aqui…

error: Textos, fotos, artes e vídeos do site MTB Brasília estão protegidos pela legislação brasileira sobre direito autoral. Não reproduza o conteúdo do jornal em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização