23 de novembro de 2024
O ex-ciclista conta que tem duas paixões: sua esposa Natalina e as bicicletas - Foto: Luiz Setti

Ex-ciclista de 97 anos esbanja vitalidade e amor ao esporte

Gamaliel Dias mostra fôlego de profissional para correr e pedalar todos os dias

O ex-ciclista conta que tem duas paixões: sua esposa Natalina e as bicicletas - Foto: Luiz Setti
O ex-ciclista conta que tem duas paixões: sua esposa Natalina e as bicicletas – Foto: Luiz Setti

Gamaliel de Oliveira Dias levanta da cama todo dia por volta das 9h e a primeira coisa que faz é tomar um banho de água fria. Logo após, ele faz exercícios físicos por pelo menos quarenta minutos, com flexões e trabalhos com a pernas e braços. Ainda pratica meia hora exercícios em aparelhos de ginástica. Tudo isso, antes de trabalhar na sua pequena oficina de bicicletas, onde passa de três a quatro horas por dia, montando e arrumando as “magrelas” de seus clientes. Ele encontra tempo também para outras atividades como caminhadas e pedaladas, até a hora de dormir, após a meia-noite.

Essa é a rotina do ex-ciclista Gamaliel Dias, que completou 97 anos no último dia 2 de janeiro. Com a paixão pelas bikes desde os 10 anos de idade, competiu profissionalmente entre 1937 e 1957, colecionando vitórias e muitas histórias, sendo o pioneiro do ciclismo sorocabano, tanto individualmente, como na disputa por equipes. Morador da Vila Jardini desde 1927, ele mostra vigor e muito fôlego para encarar os desafios do dia a dia.

Gamaliel de Oliveira Dias
Gamaliel e sua bike: “Se eu tivesse uma dessas na minha época, ia ser difícil me segurar!” – Foto: Luiz Setti

O ex-atleta conta que tem duas paixões: a sua esposa Natalina, cujo casamento completa 70 anos em maio, e as bicicletas, sendo uma delas a sua xodó. “Comprei este modelo em 2006 e qualquer novo equipamento que aparece no mercado eu vou atrás e compro. Ela é feita de fibra de carbono e pesa sete quilos, é da mesma qualidade das usadas pelos melhores atletas do país. Se eu tivesse uma dessas na minha época, ia ser difícil me segurar (risos)”, revela Gamaliel.

O ex-ciclista lembra dos tempos em que competia e conseguia grandes resultados, como o título do terceiro centenário de Sorocaba, em 1954, no auge de sua carreira. “Entre 1950 e 1957, quando competia com a minha equipe, a Ciclo Brasil, a gente não perdia uma. As corridas que a gente fazia em Piedade, Porto Feliz, Pilar do Sul, sempre conseguíamos estar na frente. Eram oito ciclistas, sendo cinco que sempre brigavam pela vitória. E mesmo sendo cerca de 20 anos mais velho que restante do pessoal, eu sempre estava nas cabeças.”

Com 40 anos, Gamaliel deixou de competir, o que representou, segundo ele, o fim de uma era no ciclismo de Sorocaba. “A equipe ainda durou até 1960. Era muito difícil naquela época, pois os patrocínios eram escassos e a premiação era pequena. Além disso, faltava apoio do prefeito na época, e isso acabou com o ciclismo aqui no município. E infelizmente, a situação não é muito diferente nos dias de hoje. Ainda há um trabalho em Votorantim, pois parece que o prefeito de lá gosta mais do esporte que o daqui”, desabafa o ex-ciclista.

Imagem do período em que Gamaliel competia (1937 a 1957) - Foto: Luiz Setti
Imagem do período em que Gamaliel competia (1937 a 1957) – Foto: Luiz Setti

Outros esportes – Não é só no ciclismo que Gamaliel fez carreira. O ex-atleta também esteve envolvido no futebol da cidade, assim como a natação. Dentro de campo, jogou durante 40 anos, conciliando a bicicleta com a bola e a água, estando presente nos antigos campos da cidade, além de dar as suas braçadas no então límpido rio Sorocaba.

Nos campos, a passagem mais marcante foi durante a década de 40, quando defendeu por dois anos o Esporte Clube Piratininga, time mantido por Humberto Reale que disputava campeonatos regionais. “Era um clube bem humilde com estruturas modestas. Eles não podiam pagar salário, então o doutor ofereceu assistência médica para toda minha família. Aceitei e isso foi importante para a saúde de todos nós”, destaca.

E o fôlego permanece em alta. Nas pedaladas e caminhadas, sempre é ele quem dita o ritmo. Além disso, Gamaliel revela que fez por 26 anos seguidos (entre 1980 e 2006) o percurso de ida e volta da procissão de Aparecidinha, que ocorre duas vezes ao ano, saindo de sua casa e indo até o santuário à pé e voltando da mesma forma.

E o motivo para o ex-ciclista ter parado de seguir a peregrinação foi porque não havia ninguém para seguir seu ritmo. “Tinha um pessoal que ia comigo, mas voltava de ônibus, me deixando só. Há 40 anos que eu não subo em transporte público e também nunca tive Carteira de Habilitação. Sempre andei a pé ou de bicicleta. É melhor para mim”, salienta.

Para o futuro, ele espera que os seus herdeiros sigam os seus passos. Apesar de não ter filhos, Gamaliel é o maior incentivador de seus sobrinhos, netos e afiliados para seguir carreira no ciclismo, além de desejar que estes mantenham a saúde e a boa forma em ordem. “Nunca precisei de remédio para nada e os médicos sabem que meu coração está em estado perfeito. Essa é a melhor dica que posso deixar para eles”.

O ex-atleta conta que tem duas paixões: a sua esposa Natalina (ao centro) e as bicicletas - Foto: Luiz Setti
O ex-atleta conta que tem duas paixões: a sua esposa Natalina (ao centro) e as bicicletas – Foto: Luiz Setti

Segredo da longevidade – Além da rotina bem definida em sua vida, Gamaliel destaca que faz a dieta mais simples possível para manter um equilíbrio, evitando extravagâncias, como o consumo de álcool e fumo, bem como alimentos muito salgados, gordurosos ou apimentados, mas que nutre um gosto especial pelo leite.

O ex-ciclista raramente almoça e costuma jantar no começo da noite. “O meu prato é bem simples: ele só tem arroz, feijão e bife. Mas o bife tem que ser de carne boa, como alcatra ou filé-mignon. Mas o importante é o que bebo. Eu tomo bastante leite. Tanto eu, como minha esposa, tomamos sessenta caixas por mês. Também bebo bastante suco de frutas e como bolacha, mas o principal é o leite, com certeza”, revela.

Gamaliel busca sempre estar em forma para levar a vida o mais longe possível, mas encara a morte com naturalidade: “Uma das coisas que imagino é que morrerei provavelmente durante um dos meus exercícios, pois assim faria o que mais gosto”, mas mostra disposição para qualquer novidade que aparecer: “A gente vive aprendendo as coisas. Nunca paramos de aprender”, completa.

Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul, por Eduardo Filho

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