Por Cesar Rocha – Sou paulistano de nascimento, moro em Brasília e região desde 1970. Em 07 de setembro de 2013 embarquei num Real Expresso aqui na Rodoviária Nova com destino a Uberaba, levando comigo a Áquila, minha Caloi Comfort 2011. Começava aí aquela que será a grande aventura de minha vida. Até agora.
Estou com 61 anos; nos anos 1980 pedalava muito. A partir de 1993 minha vida pessoal entrou em retrocesso: depressão, solidão, abandono de mim mesmo. Em 2013 resolvi dar um basta nessa situação e, por diversos acasos, decidi fazer uma viagem de bicicleta. Da vontade ao planejameto e execução foram somente 3 meses. Ou seja, uma lástima, em termos de logística, que viria a se revelar no decorrer do projeto.
A ideia original era percorrer o Estado de São Paulo, partindo de Igarapava no sentido anti horário, passar pelas 4 cidades limites dos pontos cardeais e finalizar no centro geográfico do estado, na cidade de Dourado, em um percurso de aproximadamente 4 mil quilômetros. Acreditava eu gastar um ano ou mais para tal empreitada.
À medida que pedalava, fui percebendo que a tarefa seria muito grande, daí alterei por diversas vezes o plano original. Fui numa primeira etapa de Igarapava (Norte) a Ilha Comprida (Sul), passando por Dourado (Centro). Contabililzei 1.007 kms pedalados. Em Ilha parei para repensar, tive um pequeno problema de saúde (crise de lombalgia) e decidi então ir para Bananal (Leste), de onde voltei para um recesso de fim de ano, no dia 13 de dezembro, completando 1.676 kms. Pretendo voltar após o carnaval, alguns dias após completar 62 anos, 04 de março. A ideia é ir para o Oeste, até a cidade de Rosana e depois… reformular novamente e continuar na estrada.
Sempre gostei e tive bicicleta, desde a infância. Devido os 20 anos de hiato – e sedentarismo – passados, não acreditava que o prazer de pedalar ressuscitasse com tanta força. Tanta que incorporei a bicicleta como meio de transporte principal, só utilizando carro em caso de absoluta necessidade. Até o momento estou sinceramente maravilhado com a possibilidade de passar, talvez, o resto de minha vida pedalando.
Viajar de bicicleta despreocupadamente em todos os sentidos é uma aventura sem igual. A oportunidade de conhecer pessoas as mais diversas e a si próprio de maneira mais neutra e direta (e muito mais, sem a “ajuda” de um psicoterapeuta) está sendo para mim a maior recompensa. Saber-se desprendido, mais leve, com bem menos amarras a coisas e pessoas, não tem preço.
Passei por diversos tipos de estradas: grandes como a Anhanguera, Castelo Branco, BR-116, Dutra. Outras mais simples, de uma pista só, algumas sem acostamento. Alguns trechos de terra também fizeram parte do cardápio. Subi e desci serras, que me encantaram pelo visual, tão diverso do nosso planalto. O medo inicial, a hesitação ainda em solo mineiro se transformaram em prazer e alegria. Ora um calor infernal, outras com frio de 6 graus na madrugada, ora chuva por todo o caminho, nada mais poderia me deter.
O cicloviajante é uma figura recente no cenário nacional, por isso, acho eu, desperta simpatia, curiosidade e solidariedade por onde passa. Só mesmo dentro das cidades grandes o ciclista é hostilizado, infelizmente ainda.
Somente agora me dou conta do movimento que se realiza no país em prol da inserção da bicicleta na mobilidade urbana, o que já passa da hora, pois nossas cidades não suportam mais tantos carros. Isso notei por todos os lugares que passei. E fico feliz em poder participar dessa disseminação saudável.
Tem aqui algumas fotos dos lugares por onde passei. Para conhecerem detalhes da viagem, acessem meu blog. Leiam desde o início, pois a cronologia é importante, visto que com o tempo fui adquirindo mais confiança.