1 de dezembro de 2024

Trilha dos Tonéis

Por José Marcelo Goulart de Miranda*

Numa manhã com cara – só cara – de chuva, o calor já era grande antes das 8h30, hora do ‘partiu pedal’. Expectativa, pois havia um bom número de confirmações. Foi passando a hora e, afinal, éramos oito destemidos. Quase 9h, partimos! Dois irmãos eram os novatos na trupe do MTB Brasília. Teve gente chegando ao ponto de encontro de bicicleta mesmo. Né não, André!?! E, de fato, era perto o suficiente ali do final da Asa Sul ou da região do Sudoeste pra quem quisesse já chegar aquecido.

Do posto de gasolina subimos a passarela de pedestres para descer do outro lado, dentro do Núcleo Bandeirante. Como são divertidas essas passarelas! Sobe, curva pra um lado, curva pro outro, aquele barulho do piso de metal anunciando nosso movimento ciclístico. Pra quem olha à distância, é aquele fila colorida e animada de bikers. Agora, desce, curva pra um lado, curva pro outro, no ponto de aumentar a adrenalina e a expectativa pela trilha. Pelas calçadas e entre as árvores fomos cortando o Bandeirante até sairmos na linha do trem, rumo à região de chácaras, nos ‘fundos’ do Recanto das Emas. Eu mesmo nunca havia pedalado por essas bandas.

TonéisRumando pros Tonéis, cruzamos com outros pedalantes, felizes e acelerados. Pensei logo numa adrenalina daquelas, consequência de muita energia que seria despendida por sobes e desces. Que nada! “Pessoal, fica esperto com o cachorro solto ali que tá atacando as canelas de quem passa…” O quê?!? Rapidinho nos agrupamos pra enfrentar a fera. E lá veio ela. Tadinha, quando viu aqueles doidos do pedal se encarregou de correr pra longe. Mas, já perto do seu reduto aí resolveu nos encarar. Uma fêmea voraz! Sem perigo. Ladra, mas não morde. Devia ter lá uma ninhada que lhe instigava os instintos de defesa da prole. Fomos cruzando as chácaras até uma cerca quebrada. Dali pra frente, só cerrado e estradões de piçarra e pedregulhos. Logo de cara, uma subida pra todos apresentarem suas credenciais. Há dez dias sem montar minha magrela, não zerei a parede. Lá em cima precisei empurrá-la. Um pouco zonzo com o mormaço da manhã nublada, abri os olhos e vi de longe de um ângulo para mim inédito. Eu, rodeado de um cerrado judiado, mas ainda com raras belezas logo ali. Fazer o quê? Agradecer aos pedais. E outros foram chegando com línguas secas, semblante exausto e empolgação pra muito mais.

Agrupados, recarregados e hidratados, bora em frente. E logo ali, quem? O quê? Os Tonéis!!! Incrível como corre água por essas bandas! Não à toa, os imensos tonéis captam e direcionam esse ouro paras propriedades silvicultoras lá embaixo. Não resisti e fui conferir um daqueles regos mais de perto. Ali, onde a água forma charcos entre o capim único do cerrado. Pensei logo nas espécies, talvez quase extintas, que habitaram e, talvez, ainda habitem essas plagas. A trilha parecia também um rego. Foi ficando estreita e molhada. E escorregadia! Mas, logo ali, mais acima num platô, encontrei o que nunca pensei existisse por aqui: um ‘parque de diversões’ para bikes, incluso as motorbikes. Eram rampas, valões, paredes inclinadas e tudo que diverti qualquer um que se imagina um ás sobre duas rodas. Lembra de ‘Two wheels good’, do Prefab Sprout? Se não conhece, vai lá no YouYube.

Tonéis

Ali permanecemos uns 20 minutos, saltando, descendo e subindo cocurutos e covas. Curvas inclinadas e paredões nos animavam como nos tempos em que esses marmanjos andavam de caloi cross light, aquelas infernais magrelas de nos tirar o juízo. Faz tempo! Daí, seguimos por campos de cerrado limpo. Um platô todo arenoso e de capim daqueles que dançam ao vento. Daí todos aqueles regos vertentes mais abaixo. Breve, mas um lugar realmente lindo.

Logo uma estrada beirando chácaras e sítios, toda elameada, com enormes poças no caminho, fazendo novamente nossa alegria. A brincadeira era passar pelas bordas, sem cair na lama ou parar dentro do mato. Bora André, aceleraaaa!!! E lá íamos na maior diversão. Fiquei orgulhoso. Zerei as poças. Outros também. Mas teve gente comprando lote. Ou melhor, poças. Né não, Charles?!?

Entroncamento, pegamos à esquerda e uma descida curta e inclinada nos levou à “cachu”. Cachu??? Ué, o q q é isso aqui André? Uma estranha ocupação de concreto, com uma enorme mesa, também de concreto, na beira do barranco e no meio da mata. Um clima suave ali. Helicônias decoravam o lugar. Mas o lixo ali deixado, aos montes, martelava mais uma vez aquela questão: Por quê? Mãe Natureza, por que isso???

Valeu o banho na água fresca. Valeu o lanche e a conversa com os manos. “E as manas? André, cadê as meninas que confirmaram?” – “Pô Zé, sabe como é, as mina abrem um olho, avistam o céu nublado, juram que deveriam estar de pé pro pedal, mas…” Pior que é! É assim mesmo meninas?

TonéisJá voltando, ruma às chácaras do Ipê, a referência era a escola classe local. A bomba do Ricardinho ia explodir. Ops! Digo, cair. Seguimos devagar, mesmo assim suficiente para ficarem ele e o Charles pra trás. Já nos encantávamos novamente no cerrado, num trecho cada vez mais técnico, quando caiu a ficha. Kd os dois? – Putz! Vou voltar lá. “Vou contigo Zé.” – E aí Toni, tá vendo os caras? – Nem fumaça. Ê celular, ainda bem que aqui tem sinal. – Pô, cadê vocês? “Ah Zé, sei lá. A gente desceu a rua aqui e já estamos quase em casa de novo.” – Êêê!!! Vocês estão loucos!? Volta tudo até a escola. Estamos aqui esperando. Agrupamos e seguimos, agora por uma estrada que bem poderia dar nome ao pedal, de ‘pedral’. Era só pedra! Subidas e descidas suaves aceleravam o ritmo. Obstáculos em forma de cocurutos faziam a brincadeira animada na adrenalina. Ou não, né Toni!? Embalados íamos descendo os platôs aos poucos. Às vezes acelerados ou acelerados demais. Um pequeno erro de cálculo e o bar-end toca o galho. À minha frente, o mano Toni voa nas pedras! Sorte dele ser um cabra forte, pois a queda foi estranha. Sua magrela, intacta, ele montou num pulo e seguimos com a mesma disposição. Maravilha que é essa resiliência dos animados pedalantes, mesmo os quarentões.

Logo antes das ribanceiras finais uma pausa para as fotos. E haja foto! Todos queríamos um registro daquele restinho de cerrado, lá do alto, de onde se via a civilização destruidora, nosso lar. Jipeiros também se divertiam por ali, numa zoada destoante. Morro abaixo, foi adrenalina só; no encalço do André, até uma freada daquelas xrxrxrxrxrxrxr!!!! Valeu mestre!

Ali pelas bandas das chácaras, novamente, mais fotos. Até umas bem bregas à beira dos tanques. Tanques??? – Pô, será que não tem uns barris? Chega de Tonéis. Calçadas, passarela e vaza-barris… bem, podem ser long-necks  mesmo. Valeu, Mountain Bike Brasília!!! Valeu Pedalantes!!!

*José Marcelo Goulart de Miranda, o Zé Marcelo, é membro ativo e pedalante do MTB Brasília
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