25 de novembro de 2024
Isabella Lacerda e Raiza Goulão não deixam de usar o pingente feito pelo pai de Jaqueline Mourão para as atletas do MTBteen - Foto: Aretha Martins / iG

Ciclistas lidam com amizade e rivalidade por vaga olímpica

Foto: Aretha Martins/iG
Foto: Aretha Martins/iG

Colegas de quarto, Raiza Goulão e Isabella Lacerda são as duas melhores brasileiras no ranking mundial do mountain bike

Raiza Goulão, 23 anos, goiana, melhor brasileira no ranking do mountain bike na UCI (União Ciclistica Internacional), 33ª no geral. Isabella Lacerda, 24 anos, mineira, líder do ranking brasileiro de MTB e segunda brasileira melhor colocada na UCI, com a 41ª colocação. Em comum elas têm parte da história no esporte, já que ambas tiveram o pontapé da carreira no projeto da veterana Jaqueline Mourão, e um desejo fixo na cabeça: defender o Brasil nas Olimpíadas de 2016.

O Brasil, como país-sede, tem direito a uma vaga no masculino e a uma no feminino no caso do mountain bike. Levando em conta o cenário atual, Raiza e Isabella são fortes concorrentes à vaga entre as mulheres.

Para chegar a 2016, elas convivem em clima de rivalidade e amizade. “A gente tem uma rivalidade, sim, mas é o mesmo que seria com qualquer outra atleta. Quando estou na pista, quem está à frente é quem eu quero pegar”, diz Isabella. “A gente tem praticamente a mesma idade, vem da mesma base. Nos conhecemos a bastante tempo e os objetivos são praticamente iguais, mas acho que é tranquilo”, analisa a mineira.

Raiza Goulão - Foto: Divulgação
Raiza Goulão – Foto: Divulgação

Raíza concorda e prefere ressaltar a amizade. “A gente não tem um contato muito grande porque eu sou de Goiás e ela mora em Minas, mas a gente está junto em todas as competições e quando viaja divide quarto. Não tem como não ter uma harmonia. E vamos tentar classificar o Brasil para as Olimpíadas, então nas competições internacionais a gente pode até fazer um trabalho em conjunto”, afirma Raiza. Para conseguir outra vaga olímpica, o país tem que ficar pelo menos entre os 17 primeiros no ranking mundial ou liderar o ranking das Américas.

As atletas fazem parte do Shimano Team e fizeram um camping ao lado do restante da equipe nesta semana em Ibiúna, São Paulo. E, apesar de morarem em estados diferentes, elas dividem o mesmo treinador, Cadu Polazzo. “Ele tem que ficar um pouco neutro às vezes, mas é bom porque a gente se conhece bem e acaba sabendo os pontos fortes e fracos da concorrente na pista”, conta Raiza. “Mas a gente vai lutar pela vaga olímpica sempre com amizade”, completa.

Começos diferentes para caminhos iguais – Apesar de hoje em dia terem tanto em comum, o começo no ciclismo foi diferente para Raiza Goulão e Isabella Lacerda. A primeira gostava de pedalar desde criança em Pirinópolis (GO), mas foi para a primeira competição quase que por acaso e já tinha 19 anos.

“Sempre gostei de esportes e também joguei basquete, mas nada profissional. Pedalava na rua ali na cidade, mas nunca fui para estrada porque meus pais ficavam receosos. Eu já era um pouco mais velha e vi uma competição de mountain bike e achei legal. Logo depois, colocaram um panfleto no carro do meu pai de uma prova que teria no meu bairro pertinho de casa. Eu fui”, lembra Raiza.

“Nessa primeira prova eu sofri muito na subida e pensei que nunca mais iria querer pegar uma bicicleta na vida. Mas quando eu cruzei a linha de chegada foi uma gratificação tão grande que eu pensei: ‘Quero ir de novo’”.

Isabella Lacerda - Foto: Aretha Martins/iG
Isabella Lacerda – Foto: Aretha Martins/iG

Já Isabella também praticou outros esportes, como natação e futebol, mas pedalava quando era criança para acompanhar o pai, que ia correndo até um sitio da família em Itaúna, Minas Gerais. Ela sempre gostou de natureza e ação e logo começou a corrida de aventura. “Minha primeira foi com 17 anos e minha mãe teve que assinar para eu participar”, fala a atleta. Mas desde o início a modalidade preferida sempre foi o mountain bike e Isabella decidiu seguir apenas neste esporte a partir de 2009.

Isabella e Raiza têm faculdades no currículo, mas em áreas diferentes. A mineira sempre esteve ligada ao esporte e é formada em educação física. A goiana, antes de virar esportista, começou a trabalhar, ainda aos 16 anos, e resolveu estudar administração. “Com meu salário eu fui montando a minha bicicletinha e, aos poucos, virando profissional. E acho que não troquei um pelo outro, foram trabalhos juntos. A administração ajudou no mountain bike, mas acho que não o contrário. Com o trabalho e os estudos eu tive uma base muito mais forte para fazer meus projetos no ciclismo”, explica Raiza.

E quando as duas já tinham optado pelo mountain bike, o caminho delas começou a se unir. Ambas participaram do MTBteen, projeto de Jaqueline Mourão, ex-atleta do MTB e agora praticante de esqui e biatlo nos Jogos de Inverno. Há quatro anos, a veterana selecionou jovens talentos da bike e levou para uma breve temporada no Canadá. Lá estão Raiza e Isabella.

“Foi muito bom para aprender. A gente via as provas, marcava o tempo e depois tentava descer na trilha também. Sem contar que a gente passeou, fez rapel, visitou canoyn”, lembra Isabella.

Ter participado desse projeto pode ter sido determinante para Raiza. “Comecei a competir e fui selecionada pela Jaque e aí tudo se concretizou. A gente pode conhecer o mountain bike lá fora e quando voltei para casa, estava mais chata e exigente comigo ainda. Perdi 10 quilos, segui nos treinos e estou aqui”, afirma.

E para as duas Jaque Mourão é um exemplo. “Ela é meu espelho”, resume Raíza. “Acho que não tem melhor exemplo no Brasil, afinal ela foi para duas Olimpíadas no mountain bike e três Jogos de Inverno”, elogia Isabella.

Agora é momento de tentar seguir os passos da mentora. Jaqueline, em Pequim 2008, foi a última mulher a disputar o mountain bike nas Olimpíadas. Qual das amigas e rivais vai repetir o feito?

Fonte: IG Esportes

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