Duas rodas, um rio, dois países, três regiões: o caminho ribeiro Rheinauenweg proporciona uma excursão variada. Do Maximiliansau à Alsácia e de volta: 60 quilômetros de natureza, estilo de vida e cultura
Por A. Kirchhoff – “Parece que vai ser um dia ensolarado e quente”, comenta o locador, ao me mostrar a bicicleta no pátio interno de sua loja em Maximiliansau, no estado alemão de Renânia-Palatinado. Pode pagar depois, basta o número do celular, diz.
Pouco antes das 11 horas eu me despeço. “Entre à direita, esquerda, novamente à direita debaixo da ponte e aí chegou ao Reno.” As indicações são precisas: menos de cinco minutos mais tarde me encontro no Rheinauenweg.
Dos 130 quilômetros desse caminho à margem do Rio Reno, pretendo percorrer hoje 60 quilômetros: do Maximiliansau, passando pela fronteira da França, até a Alsácia. E depois voltar pelo lado alemão no estado de Baden-Württemberg, até a região do Palatinado.
Primeiro, passo por uma das incontáveis pedreiras de cascalho à beira do Reno, e finalmente chego aonde pretendia. Por um caminho estreito, rio acima, através do Palatinado. Nada de carros, nada de barulho, pouquíssimas pessoas. O que há é o cheiro de feno fresco, o leve vento e o ruído dos pneus da bicicleta no asfalto.
Três regiões ligadas pelo turismo
O Rheinauenweg faz parte do Pamina Rheinpark, um projeto turístico transfronteiras da União Europeia no Alto Reno. O acrônimo “Pamina” é derivado dos nomes das três regiões participantes: Palatinat (Renânia-Palatinado), Mittlerer Oberrhein (Médio Alto Reno, em Baden-Württemberg) e Nord Alsace (Alsácia).
A intenção é promover o contato com a paisagem cultivada ao longo da fronteira franco-alemã. Natureza e história ficam em primeiro plano, explicadas em placas bilíngues espalhadas pelo caminho e pequenos museus nos vilarejos.
Em Neuburg, primeira estação de meu trajeto, o Museu da Navegação infelizmente está fechado. Na margem de um dos braços do Reno, vê-se um velho barco, diante de uma pousada frequentada por ciclistas e motociclistas.
Da indústria aos salgueiros-brancos – Quase chegando à fronteira francesa, topo com Dietmar e Helga, um casal de Freiburg, de bicicletas abarrotadas de bagagem. “Nós viajamos pelas fronteiras da Alemanha”, explicam, acrescentando que não têm pressa. “Passear, em vez de se apressar. Temos 14 dias de férias, e vamos ver até onde conseguimos chegar.”
Eles levaram três dias dês sua cidade até aqui, e já viram bastante coisa. “Os ciclistas são um povo conversador”, comenta Dietmar. “Estou louca para conhecer a Dinamarca”, acrescenta a esposa. E eu quero chegar logo à França, penso ao sair de Berg, o lugarejo mais ao sul do Palatinado.
O caminho direto ao longo do rio está fechado, devido a obras. Détour– desvio: se não fosse a placa em francês, quase não teria notado que já atravessara a fronteira. Lauterbourg, um pequeno vilarejo na Alsácia, parece quase morto no calor do meio-dia. O termômetro na antiga casa da alfândega marca 30 graus centígrados.
Desvios levam a caminhos esticados e indesejados: após uma incursão involuntária pela zona industrial – afinal, o Reno também é uma via de transporte –, finalmente o rio fica de novo visível.
Nas cercanias de Munchhausen, o caminho passa por uma reserva natural, notável por seus salgueiros-brancos. As folhas estreitas, cobertas de pelos prateados na parte inferior, cintilam ao sol. O efeito é acentuado pelos reflexos da água, pois as plantas ficam submersas até bem acima das raízes.
Vilarejos em sesta – Pouco antes das duas horas da tarde, já tendo consumido todas as minhas provisões de água e comida, chego a Seltz. Infelizmente, também aqui é hora de sesta – talvez porque seja segunda-feira e quase ninguém esteja na rua. Os pequenos restaurantes atraem com a promessa de tarte flambée, mas estão todos fechados.
Então vou ter que me contentar com a brasserie na esquina. Do lado de fora há quatro mesinhas, numa das quais está um homem de barba, sem camisa. Peço só um café francês e uma água. E começo a bater papo com Alfons.
Ao que tudo indica, parece ser verdade que ciclistas gostam de conversar. Ele é da Alemanha e vem regularmente de bicicleta aqui, de Plittersdorf, na outra margem do Reno. Para fazer compras, apostar nas corridas de cavalos, e porque “os franceses são bem mais faladores”.
“Eles dão dicas, não são assim tão trancados”, justifica. Não que ele precise, necessariamente, pois entende de cavalos. Já teve alguns, andou muito pelo mundo. Agora, ele aposta. Na despedida, me convida a visitá-lo em sua casa à beira do rio, caso me encontre na área. E no que toca às minhas relações com outras pessoas, é para eu prestar atenção nos signos astrológicos: ele aprendeu isso e faz questão de passar adiante.
Vento contrário na volta – De Seltz, tomo a barca para Plittersdorf. Junto comigo, um grupo de ciclistas está voltando da excursão. Tenho que provar de qualquer jeito o sorvete da cidade, insistem, ele é realmente fantástico. Enfim, umas calorias a mais não vão fazer mal, penso, o tempo continua quente.
Vale a pena confiar em ciclistas experientes: o sorvete é bom. É hora de voltar. Primeiro me engano novamente de caminho, e quase me arrependo da esticada até a sorveteria. Mas aí acho novamente o Rheinauenweg. Meus acompanhantes são salgueiros-brancos e cisnes. E, infelizmente também o contravento. Agora é preciso pedalar com força: a bicicleta alugada tem que estar de volta até as 18 horas.
Mais resfolegando do que conseguindo admirar a paisagem – com calor e vento contrário, o idílio pode ser uma tortura – a volta é um sofrimento. Não há ninguém no caminho para eu perguntar quanto ainda falta. Mas aí chego mais rápido do que esperado para pegar a barca de volta – e estou de novo quase eufórico, pois ainda há tempo para uma bebida refrescante no atracadouro.
Artigo originalmente publicado na Deutsche Welle (DW)