22 de novembro de 2024

A importância do correto aperto dos parafusos na manutenção de sua bicicleta

Uso do torquímetro evita quebras e aumenta a durabilidade dos caros componentes de sua bicicleta

Com a crescente popularização de quadros e componentes em fibra de carbono, torna-se cada vez mais importante o cuidado com o correto aperto dos parafusos utilizados na montagem da bicicleta.

Peças e componentes sujeitos a estresse constante como mesa, guidão, canote de selim, balança de suspensão e rotores de freios, podem facilmente danificar-se caso não sejam corretamente apertados, principalmente no caso de modelos que utilizem o carbono e alumínio em sua composição.

Como medir o aperto correto?

O correto índice de aperto dos parafusos, também conhecido como torque, é, via de regra, estabelecido pelos fabricantes de peças e componentes para bicicletas. Basicamente, o torque é uma medida de torção.

O torque corresponde à força que aplicamos, multiplicada pela distância em relação ao ponto de apoio. Essa força é determinada, ou medida, em Newtons, cuja sigla é N (em maiúsculo). Já a distância é medida em metros, cuja sigla é m (em minúsculo). Logo, um torque de 5 N.m corresponde a 5 Newtons por metro.

Para evitar o torque insuficiente ou excessivo, utilizamos uma ferramenta chamada torquímetro ou chave dinamométrica, que nada mais é do que uma ferramenta ajustável, na qual o usuário regula o torque em uma escala e aperta o parafuso normalmente. Quando se atinge a torção desejada, o torquímetro ‘avisa’, seja por meio de uma régua analógica ou digital, por um sinal sonoro ou através de um ‘estalo’.

Como determinar o índice de torque adequado?

Atualmente, a grande maioria das peças para bicicletas que exigem apertos de precisão já exibem, no seu próprio corpo, o índice de aperto correto, como é o caso da mesa da marca Ritchey abaixo:

Mesa

Neste caso, basta regular o torquímetro para o índice de aperto recomendado (5 N.m). Já no caso de componentes de peças, como por exemplo, polias de câmbio e parafusos de fixação de rolamentos, o índice de torque é determinado através dos manuais de instalação e serviço que acompanham o produto.

Modelos de torquímetros para utilização em ciclismo

Via de regra, qualquer torquímetro com capacidade de medição entre 3 a 14N.m é apto para utilização em oficinas de bicicletas.

Existem basicamente três tipos de torquímetros indicados para utilização em bicicletas:

Do tipo vareta, cujo princípio de funcionamento é através da flexão de uma haste ou vareta, que aponta em uma escala analógica o valor do torque. Embora seu preço seja acessível, não possui boa precisão em valores muito baixos.

Torquímetro do tipo vareta da marca Park Tool, modelo TW-1 (descontinuado)
Torquímetro do tipo vareta da marca Park Tool, modelo TW-1 (descontinuado)

Do tipo estalo, o mais comumente utilizado, devido às suas características de precisão e custo x benefício. Seu funcionamento é simples: Basta ajustar um dial para o torque desejado. Feito isto, basta apertar o parafuso até a ferramenta desarmar, dando um ‘estalo’, o que significa que o aperto está no torque correto. Ao retornar, o torquímetro rearma-se automaticamente, pronto para nova aplicação.

O torquimetro do tipo estalo é o que oferece a maior variedade de modelos para utilização em ciclismo, desde os do tipo ajustável para utilização em oficinas especializadas, como o Park Tool TW-5  e o Shimano Pro, até os modelos de torque único, de utilização caseira, como o Giant Tool Shed Torqkey.

Torquímetro de estalo Shimano Pro
Torquímetro de estalo Shimano Pro

Por último, temos o modelo digital, munido de um display de LCD e um sinal sonoro que indicam o correto índice de aperto. Estes modelos são, via de regra, os mais caros e precisos, como é o caso do modelo Topeak D-Torq Wrench.

Topeak D-Torq Wrench
Topeak D-Torq Wrench

Precisão e calibração

O certificado de aferição é a garantia da precisão do torquímetro
O certificado de aferição é a garantia da precisão do torquímetro

A precisão de um torquímetro irá variar de modelo para modelo. Embora os modelos de vareta eventualmente possam ser utilizados em bicicletas, os modelos de estalo e digital são os mais indicados para a função.

De acordo com a norma ISO 6789/2003, os torquímetros do tipo vareta podem ter um erro de exatidão de até +/- 6% do torque indicado.

Os modelos de estalo e digital podem ter um erro de exatidão de até +/- 6% do torque indicado para escalas até 10 N.m e de até 4% para torque máximos acima de 10 N.m.

Todo torquímetro de qualidade deve vir acompanhado de um certificado de calibração, que nada mais é que um documento que atesta que sua precisão foi aferida em laboratório de acordo com os padrões internacionais DIN-ISO 6789 ou ABNT 12240, no caso de produtos nacionais.

Devido ao fato de ser uma ferramenta de precisão, todo torquímetro deve ser recalibrado anualmente ou após sofrer uma queda.

Atenção!

É bom lembrar que, por ser uma ferramenta de precisão, o torquímetro deve ser utilizado apenas em parafusos que exijam índices de torque restrito, como os da balança da suspensão, mesa, canote do guidão, passadores de marcha e manetes de freio. Via de regra, os demais parafusos de sua bike dispensam a utilização desta ferramenta.

O uso generalizado da ferramenta, além de desnecessário, poderá descalibrar o torquímetro.

Onde calibrar?

No Brasil existem diversas empresas certificadas capazes de calibrar torquímetros, como a M. Shimizu e a Instrutherm. Além disso, fabricantes nacionais como a Tramontina e a Gedore possuem seus próprios laboratórios de aferição e calibragem, que oferecem este serviço exclusivamente para os produtos que fabricam. O preço da calibragem, com certificação no padrão ISO-DIN 6789 fica em torno dos 200 reais.

Torquímetro de estalo nacional Tork Fort SSK2-25TW
Torquímetro de estalo nacional Tork Fort SSK2-25TW

Sobre o autor

André Ramos é editor do website MTB Brasília
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