Uso do torquímetro evita quebras e aumenta a durabilidade dos caros componentes de sua bicicleta
Com a crescente popularização de quadros e componentes em fibra de carbono, torna-se cada vez mais importante o cuidado com o correto aperto dos parafusos utilizados na montagem da bicicleta.Peças e componentes sujeitos a estresse constante como mesa, guidão, canote de selim, balança de suspensão e rotores de freios, podem facilmente danificar-se caso não sejam corretamente apertados, principalmente no caso de modelos que utilizem o carbono e alumínio em sua composição.
Como medir o aperto correto?
O correto índice de aperto dos parafusos, também conhecido como torque, é, via de regra, estabelecido pelos fabricantes de peças e componentes para bicicletas. Basicamente, o torque é uma medida de torção.
O torque corresponde à força que aplicamos, multiplicada pela distância em relação ao ponto de apoio. Essa força é determinada, ou medida, em Newtons, cuja sigla é N (em maiúsculo). Já a distância é medida em metros, cuja sigla é m (em minúsculo). Logo, um torque de 5 N.m corresponde a 5 Newtons por metro.
Para evitar o torque insuficiente ou excessivo, utilizamos uma ferramenta chamada torquímetro ou chave dinamométrica, que nada mais é do que uma ferramenta ajustável, na qual o usuário regula o torque em uma escala e aperta o parafuso normalmente. Quando se atinge a torção desejada, o torquímetro ‘avisa’, seja por meio de uma régua analógica ou digital, por um sinal sonoro ou através de um ‘estalo’.
Como determinar o índice de torque adequado?
Atualmente, a grande maioria das peças para bicicletas que exigem apertos de precisão já exibem, no seu próprio corpo, o índice de aperto correto, como é o caso da mesa da marca Ritchey abaixo:
Neste caso, basta regular o torquímetro para o índice de aperto recomendado (5 N.m). Já no caso de componentes de peças, como por exemplo, polias de câmbio e parafusos de fixação de rolamentos, o índice de torque é determinado através dos manuais de instalação e serviço que acompanham o produto.
Modelos de torquímetros para utilização em ciclismo
Via de regra, qualquer torquímetro com capacidade de medição entre 3 a 14N.m é apto para utilização em oficinas de bicicletas.
Existem basicamente três tipos de torquímetros indicados para utilização em bicicletas:
Do tipo vareta, cujo princípio de funcionamento é através da flexão de uma haste ou vareta, que aponta em uma escala analógica o valor do torque. Embora seu preço seja acessível, não possui boa precisão em valores muito baixos.
Do tipo estalo, o mais comumente utilizado, devido às suas características de precisão e custo x benefício. Seu funcionamento é simples: Basta ajustar um dial para o torque desejado. Feito isto, basta apertar o parafuso até a ferramenta desarmar, dando um ‘estalo’, o que significa que o aperto está no torque correto. Ao retornar, o torquímetro rearma-se automaticamente, pronto para nova aplicação.
O torquimetro do tipo estalo é o que oferece a maior variedade de modelos para utilização em ciclismo, desde os do tipo ajustável para utilização em oficinas especializadas, como o Park Tool TW-5 e o Shimano Pro, até os modelos de torque único, de utilização caseira, como o Giant Tool Shed Torqkey.
Por último, temos o modelo digital, munido de um display de LCD e um sinal sonoro que indicam o correto índice de aperto. Estes modelos são, via de regra, os mais caros e precisos, como é o caso do modelo Topeak D-Torq Wrench.
Precisão e calibração
A precisão de um torquímetro irá variar de modelo para modelo. Embora os modelos de vareta eventualmente possam ser utilizados em bicicletas, os modelos de estalo e digital são os mais indicados para a função.
De acordo com a norma ISO 6789/2003, os torquímetros do tipo vareta podem ter um erro de exatidão de até +/- 6% do torque indicado.
Os modelos de estalo e digital podem ter um erro de exatidão de até +/- 6% do torque indicado para escalas até 10 N.m e de até 4% para torque máximos acima de 10 N.m.
Todo torquímetro de qualidade deve vir acompanhado de um certificado de calibração, que nada mais é que um documento que atesta que sua precisão foi aferida em laboratório de acordo com os padrões internacionais DIN-ISO 6789 ou ABNT 12240, no caso de produtos nacionais.
Devido ao fato de ser uma ferramenta de precisão, todo torquímetro deve ser recalibrado anualmente ou após sofrer uma queda.
É bom lembrar que, por ser uma ferramenta de precisão, o torquímetro deve ser utilizado apenas em parafusos que exijam índices de torque restrito, como os da balança da suspensão, mesa, canote do guidão, passadores de marcha e manetes de freio. Via de regra, os demais parafusos de sua bike dispensam a utilização desta ferramenta.
O uso generalizado da ferramenta, além de desnecessário, poderá descalibrar o torquímetro.
Onde calibrar?
No Brasil existem diversas empresas certificadas capazes de calibrar torquímetros, como a M. Shimizu e a Instrutherm. Além disso, fabricantes nacionais como a Tramontina e a Gedore possuem seus próprios laboratórios de aferição e calibragem, que oferecem este serviço exclusivamente para os produtos que fabricam. O preço da calibragem, com certificação no padrão ISO-DIN 6789 fica em torno dos 200 reais.