Normalmente feitas com materiais caros e com até 33 marchas, elas podem ser intimidadoras. Esse é um dos motivos pelos quais o número de pessoas que optam por correr ter disparado nos últimos anos, enquanto que o número dos que andam de bicicleta se manteve praticamente estacionado.
Mas há uma nova esperança para o ciclismo. Os fabricantes de bicicletas estão dando mais atenção aos que querem usá-las como um meio de transporte para ir até o boteco do bairro e não até as montanhas dos Pireneus. Esses consumidores buscam os benefícios à saúde gerados pelas pedaladas sem terem necessariamente que se encharcar de suor. As bicicletas mais básicas — aquelas sem partes exóticas ou marchas elaboradas — de repente passaram a ter grande uma grande demanda.
“Mais pessoas estão usando a bicicleta para ir à feira, andar pela vizinhança, dar uma volta com as crianças”, diz Mark Trimble, um dos donos da loja de bicicletas Pedal the Planet, em Lexington, no Estado americano do Kentucky. Ele diz que os usuários de bicicleta não estão mais “se vestindo como insetos, com Lycra justa e todas esses acessórios”.
Um certo grupo de entusiastas do esporte continua feliz em desembolsar entre 3 a 10 mil dólares por modelos de bicicletas superleves com armação e partes de fibra de carbono.
Mas integrantes da indústria admitem que fizeram um péssimo trabalho recrutando novos adeptos. Então, os fabricantes, liderados por empresas pequenas e independentes, estão removendo um dos maiores obstáculos para entrar no ciclismo: as próprias bicicletas.
Novos modelos vêm com selins confortáveis e estrutura que permitem que o usuário pedale com a coluna reta, além de quadros mais leves. Elas geralmente têm no máximo oito marchas, em vez de 18 ou 33 das bicicletas mais complexas. Alguns modelos têm marchas internas que ficam protegidas da sujeira, em vez dos sistemas tradicionais, expostos.
“Eu uso minha bicicleta apenas para ir de um lugar a outro e não é que eu vou pegá-la para praticar [ciclismo] por 30 quilômetros ”, diz Cassie Rae DuBay, uma bibliotecária de 28 anos de Dallas. Ela diz que só quer “adicionar um pouco de exercício no seu dia ao pedalar três quilômetros, em vez de dirigir”.
Há cerca de um ano, DuBay comprou uma bicicleta do tipo holandesa de três marchas, da Linus Bike of Venice, na Califórnia, por US$ 550, depois de conseguir um desconto de US$ 50. A companhia promove suas bicicletas como ideais para pequenas viagens, como as que ela faz para ir para o trabalho ou para a academia.
Por quase um ano, ela evitou comprar uma bicicleta. Primeiro, ela se sentia deslocada em relação aos ciclistas que usam muitas marchas, em Seattle, onde ela estudou. Depois ela ficou paralisada diante das centenas de modelos e estilos à disposição. Ela chegou até a Linus graças à recomendação de um amigo.
A popularidade das bicicletas fixas, usadas nas classes de spinning em academias, que cresceu muitos nos últimos anos, não se transformou em crescimento para o mundo do ciclismo real. Mas programas de bicicletas compartilhadas e de ciclovias expandidas, uma vez vistas como raridades exclusivas de cidades como Amsterdã, hoje são comuns em muitas cidades, inclusive no Brasil. Muitas das bicicletas vendidas hoje imitam os modelos das bicicletas compartilhadas, com três marchas, guidão para postura vertical e uma estrutura que torna fácil para a pessoa subir na bicicleta.
A Priority Bicycles, de Nova York, captou por meio do site Kickstarter, um site de crowdfunding, ou captação de recursos coletivos, US$ 550 mil. Seu fundador, Dave Weiner, trabalhou por anos na indústria de software para bicicletas e diz que seu objetivo era desenvolver uma bicicleta de alta qualidade que não exigisse manutenção rotineira. Ele fabricou 400 bicicletas, vendidas apenas on-line, e que são entregues junto com uma bomba de pneu.
A Public Bikes, de San Francisco, vende principalmente on-line e está prestes a abrir sua quarta loja de varejo. Normalmente, as lojas de bicicletas são atulhadas de equipamentos e seus funcionários se sentem mais à vontade conversando com ciclistas profissionais. “Nós queríamos criar uma experiência convidativa, de uma galeria acessível onde as bicicletas possam chamar a atenção pela cor e pela forma”, diz o diretor-presidente Dan Nguyen-Tan. Os modelos mais populares da empresa são vendidos nos EUA por preços entre US$ 350 e US$ 1 mil.
Grandes empresas estão seguindo a trilha urbana das empresas menores. A Performance Bicycle, rede de lojas de bicicletas com mais de 100 locais em 19 Estados americanos, lançou recentemente uma linha com modelos de macha única e de três marchas por cerca de US$ 200.
A Trek Bicycle Corp. comprou uma fabricante de bicicletas informais, a Electra, no início do ano passado. Em 2014, a bicicleta feminina da Electra Townie Original 7D foi o modelo mais vendido nos EUA nas lojas de bicicletas independentes, segundo uma porta-voz da Electra. Seu preço atual no mercado americano é de US$ 500.
No geral, as vendas em dólar de bicicletas para lazer subiram 19% nos 12 meses encerrados em março, de acordo com dados do NPD Group. Já as vendas dos modelos para corridas caíram 3% no mesmo período.
Fonte: The Wall Street Journal