Ciclista brasileiro supera calor de 50ºC e chuvas torrenciais e termina sua quinta participação na Race Across America, pedalando 4.835 km em 12 dias, façanha também alcançada por ele em 2007, 2009, 2011 e 2012
O paulista Claudio Clarindo acaba de escrever mais uma vez seu nome na história do ciclismo mundial. Em 11 dias, 23 horas e 35 minutos, o principal ultraciclista do Brasil percorreu os 4.835 km da Race Across America, competição de ciclismo de longa distância considerada a mais difícil do mundo, e tornou-se o primeiro atleta latino-americano a completar a prova cinco vezes. Clarindo largou no dia 16 de junho, na cidade de Oceanside (Califórnia), costa oeste dos Estados Unidos, e chegou à costa leste do país no dia 28 (domingo), cruzando a linha de chegada em Annapolis (Maryland).“O diretor da prova me disse que, no mundo todo, devem ter só uns cinco atletas que atingiram esse feito. Para mim, poder elevar o ciclismo brasileiro a um patamar tão alto e mostrar que vale a pena pedalar longas distâncias, é motivo de muito orgulho. É surreal completar a RAAM cinco vezes, um feito para poucos atletas, como o diretor de prova fez questão de dizer”, celebrou Clarindo, homenageado antes da largada exatamente por estar tentando finalizar a competição pela quinta vez seguida.
Segundo o ultraciclista, das cinco participações, a deste ano foi a mais difícil, tanto pelas condições climáticas extremas encontradas em alguns pontos quanto por problemas estruturais. Como o tempo limite para completar a prova é de 12 dias – ou 288 horas – Clarindo precisou acelerar nos últimos 130 km, pedalando a uma velocidade média de 40 km/h, muito superior à velocidade média desenvolvida por ele no circuito inteiro, de 16,8 km/h. O atleta percorreu uma média de 405 km por dia.
“Logo no início da prova, o pneu do meu carro de apoio furou, e, como o estepe era muito pequeno, tivemos de correr atrás de outro pneu. Isso me consumiu umas cinco horas e fez eu cair lá para baixo, mais ou menos na 20ª colocação. Além disso, enfrentamos condições climáticas extremas, como o calor de 50ºC no deserto do Arizona e chuvas torrenciais durante três dias. Essa edição foi atípica nesse sentido, e obrigou até os ciclistas do primeiro pelotão a parar. Acima de tudo, a RAAM 2015 foi uma corrida de superação”, contou Clarindo, para quem o trecho percorrido no deserto do Arizona, logo nos primeiros dias de prova, foi o mais desgastante, deixando o ciclista com diversas queimaduras pelo corpo e exaurindo suas forças.
Cansaço extremo e 12 dias quase sem dormir – A exemplo das outras participações, o atleta também precisou lidar com o cansaço extremo o tempo todo. Para se ter ideia das exigências físicas e mentais impostas pela Race Across America, Clarindo acumulou apenas 5h30 de sono nos seis primeiros dias da prova. “O sono é o pior inimigo na RAAM. Eu cheguei a dormir em cima da bicicleta algumas vezes enquanto pedalava, era acordado pela buzina do carro de apoio. Diversas vezes eu cheguei a pensar em desistir, mas fui motivado pela equipe, que me dizia: ‘se você parar, ficará marcado de forma negativa, mas, se continuar e conseguir se superar, será lembrado como heroi’. Uma metade é o Clarindo, a outra é a equipe”.
Outro fator decisivo para manter o ultraciclista determinado a cruzar a linha de chegada e obter o recorde histórico foi a presença do filho, João Vitor, que acompanhou o pai pela primeira vez na RAAM, estando ao seu lado nos momentos da largada e da chegada. “Sempre foi meu sonho levá-lo para lá, dizia a ele que presenciar o pai completando a Race Across America seria um presente que eu daria a ele. Nós choramos juntos nos diversos momentos de sofrimento, e ele me deu muita força. Foi uma lição de vida que não esquecerei jamais”.
Possível despedida da RAAM – A Race Across America 2015 provavelmente marcou a despedida de Clarindo da competição, pelo menos na categoria solo sub-50, em que competiu desde a sua primeira participação, em 2007. Ele foi 16º colocado na edição deste ano e seu melhor resultado foi obtido em 2009, quando terminou na sétima posição, com o tempo de 10 dias, 22 horas e 11 minutos.
“Não tenho medo de competir novamente, mas acredito que já atingi uma marca legal, um recorde difícil de ser batido, e a logística para participar da RAAM é extremamente complexa. Isso não quer dizer que deixarei de competir, quero disputar a Race Across Italia, por exemplo, e correr outras provas pelo mundo. Talvez dispute a RAAM de novo em dupla ou quarteto, mas solo eu dificilmente farei de novo”, revelou.