Telescópico ou de tamanho fixo? Com ou sem amortecimento? Alumínio, titânio ou carbono? Conheça os principais critérios para adquirir o canote de selim ideal para sua bicicleta
Para muita gente, trata-se simplesmente de um tubo que conecta o selim ao quadro, mas o canote de selim é um importante componente a ser levado em consideração no que se refere ao conforto, posicionamento de direção e ao peso final da bicicleta.Neste artigo iremos conhecer mais sobre os diferentes tipos de canotes de selim disponíveis no mercado, suas medidas, utilizações e materiais utilizados.
Critérios de escolha
Enquanto que a grande maioria dos canotes pouco variem em termos de forma e função – basicamente falando, trata-se de um tubo metálico ou de carbono onde o selim é ancorado -, é necessário conhecer algumas variações essenciais entre modelos específicos no momento de sua aquisição ou troca.
Essas variações incluem o tamanho, diâmetro, material de construção, sistema de ancoragem e formato.
Diâmetro – Em um mercado onde padronização de medidas não é regra, podemos encontrar nas lojas uma infinidade de medidas diferentes, em sua maioria das vezes incluindo valores decimais, capazes de confundir até mesmo o mecânico mais experiente:
22.0, 22.2, 23.4, 23.8, 24.0, 25.0, 25.4, 25.8, 26.0, 26.2, 26.4, 26.6, 26.8, 27.0, 27.2, 27.4, 27.8, 28.0, 28.6, 29.0, 29.2, 29.4, 29.6, 29.8, 30.0, 30.2, 30.4, 30.8, 30.9, 31.4, 31.6, 31.8, 32 e 34.9 (os números em negrito são os mais comuns).
A maioria dos fabricantes tem por regra imprimir o diâmetro do canote em sua parte inferior, que fica dentro do quadro quando instalada e que frequentemente sofre com arranhões que impossibilitam sua leitura. Neste caso, embora o diâmetro possa ser perfeitamente medido com o uso de um Paquímetro, a maneira mais rápida e prática de determinar a medida é através de uma vareta de medição do diâmetro interno do quadro, como a fabricada pela IceToolz:
Estas diferentes medidas são determinadas pelo projeto da bicicleta. Enquanto o uso de modelos do tipo oversize – com 31.8mm de diâmetro ou mais adiciona mais rigidez e resistência ao cockpit da bicicleta, canotes mais finos priorizam o conforto sobre terrenos irregulares, pois são mais flexíveis que os modelos largos.
É possível utilizar canotes de um diâmetro menor que o recomendado pelo fabricante do quadro, através da utilização de calços disponíveis em lojas especializadas.
Comprimento – Menos crítico, mas nem por isto menos importante, o comprimento do canote precisa também ser levado em consideração no momento da compra.
Embora canotes mais longos possibilitem uma maior estabilidade estrutural da bicicleta, seu tamanho máximo é delimitado pelo tamanho e construção do quadro. Desta forma, quadros de tamanho pequeno ou com o tubo do selim curvado ou seccionado podem não acomodar canotes de maior tamanho.
Por outro lado é extremamente importante observar o limite mínimo de inserção do canote no quadro, sob risco de quebra. A grande maioria dos canotes disponíveis possui uma marca impressa determinando este valor.
Como a maioria dos canotes são vendidos nas medidas de 350 e 400mm (modelos para uso MTB), alguns ciclistas e mecânicos optam por serrar o excesso de material, seja para redução de peso, ou para instalar o componente em quadros de menor tamanho. Desde que não haja exagero e que se utilizem ferramentas adequadas (canotes de carbono exigem o uso de serras especiais), não há problema algum nesta prática.
Materiais – A maior parte dos canotes de selim encontrados nas lojas utiliza o alumínio como matéria-prima, embora exista atualmente um crescimento significativo na oferta de modelos em fibra de carbono. Outros materiais como ligas de escândio e de titânio são encontrados com menor frequência.
Embora a fibra de carbono seja considerada mais confortável, graças às sua característica de absorver melhor as vibrações do terreno, canotes de alumínio são praticamente uma unanimidade nas disciplinas mais ‘hardcore’ do mountain bike, como o All Mountain, o Enduro, o Freeride e o DH, graças a sua resistência e confiabilidade.
Menos usuais que os modelos em carbono e alumínio, canotes de titânio são bastante leves e resistentes, mas difíceis de encontrar e caros.
Além disso, canotes de titânio estão sujeitos a ficarem ‘soldados’ permanentemente ao quadro da bicicleta devido à corrosão galvânica, processo que explicaremos mais detalhadamente no box ‘Dicas’ no final deste artigo.
Ancoragem do selim – A maioria esmagadora dos canotes comercializados atualmente utiliza um sistema de abraçadeira fixada à sua cabeça através de um ou dois parafusos, que agarra-se aos trilhos do selim. Além de fixar o selim, os parafusos podem ser afrouxados para permitir ajustes de posicionamento e inclinação.
Alguns fabricantes, como a Ritchey e a SDG utilizam em seus modelos topo de linha um sistema proprietário de selim de trilho único que exige um canote com sistema de ancoragem compatível. Apesar de suas vantagens (leveza e resistência), este sistema e incompatível com os demais selins e/ou canotes encontrados no mercado.
Recuo – Conforme o posicionamento da cabeça de ancoragem do selim, canotes podem ser divididos em modelos do tipo inline, onde a ancoragem do selim fica situada exatamente acima de seu tubo; e layback, cujo centro da cabeça fica posicionado para trás.
Um terceiro tipo, conhecido como setback, utiliza uma dobra ou curvatura do seu tubo, mantendo entretanto a cabeça do canote centralizada.
A escolha de se utilizar ou não canotes recuados depende inteiramente da preferência pessoal e da ergonomia (fitting) do conjunto bicicleta-ciclista.
Além das variações abordadas, existem no mercado alguns modelos que fogem aos padrões do canote de selim convencional:
Aero
Embora a maioria dos canotes de selim sejam no formato circular, muitos fabricantes, por razões aerodinâmicas ou estruturais, utilizam um formato elíptico ou de lâmina para estes componentes, principalmente em bicicletas de contra-relógio ou triathlo. Nestes modelos de bicicleta, é necessária a utilização de um canote específico que se ajuste ao formato do tubo do selim do quadro, o que limita as opções de escolha no caso de troca ou upgrade.
Uma solução meio termo encontrada por alguns fabricantes é produzir canotes de selim cuja área exposta possui formato aerodinâmico, enquanto que a parte inserida no tubo do selim permanece no formato circular.
Telescópicos
Como bem sabemos, a altura correta do selim é fundamental para a eficiência da pedalada. Durante as descidas entretanto, a redução da altura do canote possibilita que o ciclista se posicione melhor na parte traseira da bicicleta, transferindo seu peso para a roda traseira sem que o selim atrapalhe seus movimentos.
Os chamados canotes telescópicos permitem que essa alteração seja realizada sem a necessidade de descer da bike, mediante o simples acionamento de um botão.
Mais pesados, caros e de manutenção mais complicada, canotes telescópicos via de regra são utilizados em modalidades específicas do mountain bike, como o All mountain e o Enduro.
Porque usar – A ideia por trás da concepção dos canotes de ajuste variável é fornecer uma altura ideal do selim de acordo com a situação da pilotagem. Quando há a necessidade de se pedalar, o selim deverá estar em sua altura que proporcione o máximo em eficiência. Em descidas, o ideal é que o selim esteja mais baixo, sem a possibilidade de interferir nos movimentos do ciclista e permitindo que o mesmo baixe ao máximo seu centro de gravidade, aumentando a estabilidade da bike.
Desvantagens – Fabricantes de componentes para bicicletas trabalham há anos no desenvolvimento e aprimoramento de canotes telescópicos, mas este componente ainda possui alguns entraves para sua popularização.
Por possuir em seu interior mecanismos complexos e partes móveis, modelos de ajuste variável são bem mais pesados que os canotes comuns. Para atletas de XC, principalmente aqueles que adoram eliminar ao máximo o peso da bike, bem como ciclistas que não apreciam descidas técnicas, esta definitivamente não é a opção.
Seu alto custo, aliado à necessidade da realização de manutenção periódica que envolve a troca de fluido hidráulico, retentores e selos ainda pesa em sua escolha.
Canotes com amortecimento
Destinado aos ciclistas que priorizam o conforto, os canotes com suspensão utilizam molas, elastômeros ou ar para amortecer os choques causados pela vibração do terreno.
Sua maior ou menor complexidade de funcionamento, aliada ao seu peso final, será determinante para o custo final.
O maior problema deste tipo de canote está em sua alteração da altura de forma descontrolada, que resulta em perda da eficiência na pedalada.
Calços de canote
Como já dissemos acima, apesar da grande variedade de diâmetros de canotes, a grande maioria dos fabricantes trabalha apenas com as seguintes medidas: 27.2, 30.9 e 31.6mm.
Na ausência da oferta de canotes na medida exata para sua bicicleta, é possível utilizar um modelo de menor diâmetro através da utilização de calços especialmente fabricados para esta adaptação. Desta forma, é possível reaproveitar o canote super leve e caro de sua bike antiga em um modelo novo, com medidas diferentes, sem gastar muito dinheiro.
Dicas
Cuidado e conservação – Para evitar problemas como corrosão galvânica, aplique uma pequena quantidade de graxa no canote antes de sua instalação. Caso o canote e/o quadro sejam de carbono, utilize gel texturizado com sílica, que aumentará o atrito, impedindo que o canote escorregue para dentro do quadro.
No caso de canotes de titânio – assim como qualquer peça ou componente neste material -, é obrigatória a aplicação de graxa anti-seize.
ATENÇÃO!!! Jamais utilize graxa a base de sabão de lítio!!!
Atenção para o aperto – Respeite os limites de torque especificados no canote e na blocagem do mesmo. Utilize sempre um torquímetro na operação de aperto da blocagem, evitando assim quebras e rachaduras nos componentes e no quadro.
Em situações onde a blocagem possui uma indicação de aperto diferente da especificada pelo canote, utilize o menor torque.
Calço feito em casa – Se mesmo com a utilização do gel texturizado o canote continuar escorregando, utilize um pequeno recorte retangular de lata de refrigerante como calço entre o canote e o interior do quadro.
A prova d’água – A fenda situada na parte posterior do quadro, onde fica localizada a blocagem do canote, é uma porta de entrada de água em potencial. Para evitar que a água entre no interior do quadro e danifique o movimento central da bike, utilize um recorte de câmara de ar de 700cc (estrada) para vedar a abertura.