Pelo menos duas pessoas morreram após o desabamento de parte da ciclovia Tim Maia, no Rio de Janeiro, mas podem haver mais vítimas. Buscas irão recomeçar nesta sexta-feira (22) pela manhã
OCorpo de Bombeiros do Rio de Janeiro interromperam às 19 horas as buscas por possíveis vítimas do desabamento da ciclovia Tim Maia ocorrida na manhã desta quinta-feira (21).Pelo menos duas pessoas morreram após o desabamento de parte da ciclovia localizada na Avenida Niemeyer, mas de acordo com a Defesa Civil, podem haver mais vítimas. As buscas vão recomeçar nesta sexta-feira (22) pela manhã
O comandante das Unidades de Salvamento Marítimo do estado do Rio de Janeiro, Marcelo Pinheiro, declarou que ainda podem haver corpos no mar, já que eles podem ter entrado nas fendas das pedras. De acordo com Pinheiro, não foi possível mergulhar durante a tarde, pois o mar estava muito violento em decorrência de uma ressaca, mas pode ser que algum corpo apareça quando a maré baixar.
O pescador Damião Pinheiro, de 60 anos, morador da Rocinha, foi testemunha do desabamento de parte da Ciclovia Tim Maia, inaugurada em 17 de janeiro deste ano, envolvendo investimentos da ordem de R$ 44 milhões.
Pinheiro acabava de passar na ciclovia, que frequenta todos os dias da semana em sua profissão, quando ouviu um estrondo e, ao olhar viu parte da estrutura desabar, levando ciclistas e pedestres que estavam no trecho afetado. Ele disse ter parado para ver as pessoas batendo fotos, quando, de repente, veio uma onda, tirou a passarela do lugar e “jogou ela para cima como se fosse um isopor”.
“As pessoas que estavam em cima caíram junto com a passarela, a água que subiu bateu em um ônibus, quebrou os vidros do veículo, e ao descer levou as pessoas com ela”. Muito nervoso, Damião Pinheiro disse ter visto a morte bem de perto. “Eu pensei que também ia [morrer], porque a minha [parte da ciclovia] também balançou”, disse.
O pescador não tem dúvidas que uma nova ressaca poderá por abaixo novos trechos da ciclovia. “Ela não é presa a nada, é solta. Qualquer onda alta que vier no costão vai botar toda a ciclovia no mar”, afirmou.
A Polícia Civil do Rio abriu inquérito para investigar o desabamento da obra, que custou R$ 45 milhões e foi construída pela Concremat, empresa de engenharia que pertence à família do secretário de Turismo da cidade do Rio, Antônio Pedro Viegas Figueira de Mello.
Identificada uma das vítimas – O engenheiro Eduardo Marinho Albuquerque, de 54 anos, foi a primeira vítima a ser identificada. Quem o reconheceu foi seu cunhado, João Ricardo Tinoco, que foi ao local a pedido da irmã, Eliana Tinoco, a viúva do engenheiro.
Uma segunda vítima do desabamento ainda não havia sido identificada até o fim desta tarde e uma terceira pessoa ainda é procurada.
“Imperdoável” – O secretário Executivo de Governo, Pedro Paulo Carvalho, que esteve no local logo após o ocorrido, garantiu que não há riscos de novos desabamentos e classificou o acidente como “imperdoável”. O mesmo adjetivo foi usado pelo prefeito Eduardo Paes, em nota oficial divulgada à imprensa.
Veja a íntegra da nota da prefeitura
O prefeito estava em deslocamento para a Grécia – onde participaria, em Atenas, da cerimônia de passagem da tocha olímpica – e já está voltando para o Brasil. Paes atenderá a imprensa amanhã, assim que chegar ao Brasil, o que não tem horário previsto. – É imperdoável o que aconteceu, já determinei a apuração imediata dos fatos e estou voltando para o Brasil para acompanhar de perto – disse o prefeito, que saiu ontem à noite do Rio.
A Prefeitura do Rio esclarece que a prioridade neste momento é garantir a segurança da população e o atendimento às vítimas e aos seus familiares. Técnicos do município estão desde cedo no local, trabalhando com coordenação da Secretaria Municipal de Obras
O resultado da vistoria realizada pela Fundação Geo-Rio para apurar as causas do acidente será divulgado assim que concluído. Os reparos serão executados pela empresa responsável pela construção, sem ônus adicionais ao município, já que a ciclovia ainda está na garantia de obra.
A Avenida Niemeyer permanece interditada ao tráfego e o Corpo de Bombeiros continua as buscas no local.
A prefeitura pretende cobrar responsabilidades da empresa construtora da obra, a Concremat. O prefeito Eduardo Paes, que se encontrava na Grécia para a solenidade de acendimento da tocha olímpica, já está retornando ao Brasil, disse Pedro Paulo.
O secretário municipal de Obras, Alexandre Pinto, acrescentou que é prematuro apontar culpados. Disse que embora toda ressaca seja prevista, somente após a perícia que será feita no local e de posse dos resultados das investigações, haverá elementos para indicar as causas reais do desastre. A fiscalização da obra foi feita pela Geo-Rio, empresa ligada à Secretaria de Obras. “Na verdade, a gente tem que sentir a força da energia dessa onda para poder informar as consequências”. Para o secretário, “não há como dizer claramente agora quais as causas que contribuíram para ter esse acidente”. Apesar disso, ele estimou que os responsáveis são a empresa construtora Concremat e Concrejato e seus calculistas.
Crea-RJ aponta “Falha de projeto” – O engenheiro civil e conselheiro do Crea-RJ, Antônio Eulálio, declarou à imprensa que acredita que houve “uma falha no projeto” no trecho da ciclovia na Avenida Niemeyer que desabou na manhã deste sábado. Segundo ele, o projeto falho em não prever a força excepcional da onda levantou a ponte. O engenheiro ressalta que neste trecho só existe uma viga central, que não teria resistência suficiente para suportar um esforço de rotação causado pelas ondas.
Protesto de Ciclistas – Um grupo de ciclistas cariocas deu início uma manifestação no início da noite, na Cinelândia, no Centro, em protesto contra o desabamento do trecho de cerca de 20 metros da ciclovia Tim Maia, na Avenida Niemeyer, em São Conrado, Zona Sul do Rio,
Os manifestantes criticaram a falta de planejamento dos projeto que envolvem o uso de bicicletas na cidade. Na largada do protesto, eles lamentaram a morte das duas vítimas do desabamento. Os manifestantes pretendem pedalar em direção ao Pontal do Leblon, com diversas paradas pelo caminho.