Dois dias após anunciar alta de 30,6% na fabricação de bicicletas em relação ao mês anterior, Abraciclo propõe intensificar ações para encorajar o uso da bike como meio de locomoção
Na data em que se comemora o Dia Nacional do Ciclista, 19 de agosto, a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares – Abraciclo faz uma homenagem especial a todos que utilizam a bicicleta, seja como meio de transporte, lazer, esporte ou até mesmo como uma forma de obter renda.Antes da pandemia da Covid-19, a bicicleta estava mais associada ao lazer, à prática saudável de uma atividade esportiva e à preocupação com o meio ambiente. Hoje, ganha os holofotes após a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendar seu uso para evitar aglomerações como as que acontecem no transporte público.
“O momento agora é de intensificar ações e encorajar as pessoas a optarem por esse meio de locomoção. Ao contrário de diversos países na Europa que adotaram medidas para estimular o uso das bicicletas, as ações no Brasil ainda são pouco observadas”
“O momento agora é de intensificar ações e encorajar as pessoas a optarem por esse meio de locomoção. Ao contrário de diversos países na Europa que adotaram medidas para estimular o uso das bicicletas, as ações no Brasil ainda são pouco observadas. Nesse sentido, a Abraciclo intensificou seu trabalho junto às autoridades para apresentar propostas que garantam melhor mobilidade urbana e – por incrível que pareça – várias delas a praticamente custo zero”, afirma o vice-presidente do segmento de bicicletas, Cyro Gazola.
Entre as sugestões apresentadas pela entidade à prefeitura de São Paulo e ao governo do Estado de São Paulo estão a destinação das faixas à direita das vias públicas para a circulação prioritária de bicicletas em relação aos demais veículos e o estímulo à instalação e ao funcionamento de bicicletários em estabelecimentos comerciais, de ensino e serviços públicos em geral. “Nosso objetivo é integrar os esforços e as iniciativas dos setores público e privado para oferecer mais opções para a mobilidade urbana, propiciando deslocamentos confortáveis e seguros para a população”, enfatiza Gazola.
De acordo com a Companhia de Engenharia de Tráfego – CET, vinculada à Secretaria de Mobilidade e Transportes, até o final de 2020, a cidade de São Paulo terá a maior malha dedicada às bicicletas entre todas as capitais brasileiras, com 676 quilômetros de extensão, sendo que 73% dessas estruturas se interligarão ao transporte coletivo.
“Não basta só fazer ciclovias, precisamos de uma série de ações para incrementar a ciclomobilidade e mostrar os benefícios proporcionados pelo uso da bicicleta”
Mais fiscalização e menor velocidade – “Não basta só fazer ciclovias, precisamos de uma série de ações para incrementar a ciclomobilidade e mostrar os benefícios proporcionados pelo uso da bicicleta”. O alerta é da presidente da União dos Ciclistas do Brasil – UCB, Ana Luiza Carboni. Recentemente, a entidade lançou a campanha Bicicleta para Futuros Possíveis, para buscar e sugerir, junto às gestões públicas, melhorias nas condições de uso da bicicleta como modo de mobilidade e transporte durante e após a pandemia.
Ana Luiza defende a ampliação da fiscalização e sinalização nas vias públicas, além da redução da velocidade para garantir a segurança do ciclista. “Já foi comprovado que, com o limite de velocidade menor, o trânsito flui mais facilmente”, justifica. Outra medida necessária é a realização de campanhas educativas e de sensibilização para falar sobre os benefícios de pedalar, tanto no que se refere à saúde como na melhor qualidade do ar.
A presidente da UCB destaca ainda que é preciso planejar e executar obras de mobilidade fora dos grandes centros e planejar a integração com outros modais de transporte. “O uso da bicicleta é muito grande na periferia e no interior. Quem mora em locais afastados dos grandes centros não conta com ciclofaixas, ciclovias nem vias compartilhadas e estacionamento”, esclarece.
Perfil do ciclista – Mas, afinal, quem é o ciclista brasileiro? De acordo com o estudo Perfil do Ciclista, publicado pela ONG Transporte Ativo e cuja edição mais recente é de 2018, ele pedala cinco ou mais dias por semana (82,5%), usa a bicicleta como meio de transporte há mais de cinco anos (59%), está na faixa etária entre 25 e 34 anos (25,7%) e tem renda mensal entre um a dois salários mínimos (40,3%). A pesquisa ouviu cerca de 7,6 mil ciclistas de 25 cidades das diferentes regiões brasileiras, além da Argentina e Colômbia.
Ainda segundo esse estudo, 18,2% das pessoas entrevistadas utilizam a bicicleta com outro modal de transporte e para 55% dos pesquisados o tempo de viagem (pedal) varia de 10 a 30 minutos. As três principais motivações para os brasileiros adotarem a bicicleta como meio de transporte são estas: rapidez e praticidade (38,4%), saúde (25,8%) e custo (22,1%). Já os principais problemas enfrentados no dia a dia pelos ciclistas nacionais são as faltas de segurança no trânsito (40,8%) e de infraestrutura (37,9%).
Pandemia impulsiona novos negócios – É certo que o aumento de ciclistas nas ruas tem gerado um crescimento constante do mercado de bicicletas, peças e acessórios em praticamente todas as regiões do Brasil. O fato novo, no entanto, é que a pandemia da Covid-19 deu uma enorme alavancada nesse mercado. Entre as associadas da Abraciclo, que atendem a mais de 40% do mercado nacional, há empresas que estimam crescimento da receita na ordem de 15% a 20% em função da elevação da demanda durante a pandemia.
Segundo levantamento preliminar da entidade, foi verificado, por exemplo, crescimento de até 40% nos negócios realizados com bike shops (empresas de pequeno porte especializadas em venda, manutenção e reparos de bicicletas) no acumulado de janeiro a julho do presente ano, em comparação com igual período de 2019. Este segmento mercadológico reúne cerca de dois mil estabelecimentos espalhados pelo país.
“Nos negócios com lojas esportivas, a evolução da receita ficou em torno de 10% no comparativo do mesmo período, porém deu um salto de 40% a 50% nos últimos três meses, ou seja, no auge da pandemia e das medidas de confinamento e prevenção à Covid-19”, explica Gazola. “Já os valores gerados pelas operações de e-commerce (comércio eletrônico) com bicicletas foram triplicados nesse período. Estes resultados crescentes de receita indicam que, na pandemia, o consumidor brasileiro passou a adquirir preferencialmente bicicletas de maior valor agregado”, completa.
O contexto de confinamento da população em suas residências, no entanto, também causou baixas nas operações comerciais das fabricantes de bicicletas. Na categoria de bicicletas infantis a queda da receita atingiu cerca de 50%, retratando uma acentuada retração no segmento cujo perfil é estritamente familiar. Além disso, o fechamento e, posteriormente, o funcionamento em horários restritos das lojas de eletrodomésticos resultaram numa queda de aproximadamente 30% nos negócios das fabricantes, que abastecem estes pontos de venda basicamente com bicicletas classificadas como ‘de entrada’ (valores mais baixos) e de médio valor agregado.
Sobre a Abraciclo e o Setor de Duas Rodas
Com 44 anos de história e contando com 14 associadas, a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo) representa, no país, os interesses dos fabricantes de veículos de duas rodas, além de investir em ações visando a paz no trânsito e a prática da pilotagem segura.A fabricação nacional de motocicletas, quase totalmente concentrada no Polo Industrial de Manaus (PIM), está entre as oito maiores do mundo. No segmento de bicicletas, com as principais fábricas também instaladas no PIM, o Brasil se encontra na quarta posição entre os principais produtores mundiais. No total, as fabricantes do Setor de Duas Rodas geram mais de 13 mil empregos diretos em Manaus.